Transferência de armas para o Iraque abasteceu EI, diz Anistia Internacional
As transferências irresponsáveis de armas para o Iraque são a origem do arsenal da milícia radical Estado Islâmico (EI), afirmou a Anistia Internacional em um relatório publicado nesta terça-feira (8).
"O imenso e variado armamento que utiliza o grupo ilustra até que ponto a grande escala do comércio irresponsável de armas alimenta as atrocidades", afirma Patrick Wilcken, investigador da Anistia.
"Uma má regulamentação, somada à falta de vigilância dos enormes fluxos de armas para o Iraque, há décadas, tem sido um filão para o EI e para outros grupos armados, que têm tido acesso sem precedentes a esse poder de fogo".
Efe/stringer |
Veículos militares iraquianos em estrada perto da cidade de Ramadi |
A Anistia Internacional destaca que as armas fabricadas no exterior e capturadas pelo EI quando conquistou a cidade de Mossul, em junho de 2014, foram utilizadas para conquistar outros territórios e cometer crimes contra os civis.
A organização radical também capturou importante volume de armas no Iraque –quando assumiu o controle de bases militares e policiais em Fallujah, Saqlawiya, Ramadi e Tikrit– e na Síria.
As operações lançadas pelas forças governamentais para reconquistar Ramadi, capital da província de Al-Anbar, estão sendo frustradas por uma "centena de veículos de combate blindados, inclusive tanques," capturados pelo EI, destaca a Anistia.
O armamento capturado é redistribuído em diferentes frentes: armas obtidas em Mossul estavam duas semanas depois a 500 km da cidade, no norte da Síria.
SINAL DE ALARME
O EI utiliza armas e munições procedentes de ao menos 25 países, boa parte da Rússia, como o fuzil de assalto Kalaschnikov.
Os terroristas combatem ainda com fuzis Tabuk, de fabricação iraquiana, com o americano Bushmaster E2S, o chinês CQ, o alemão G36 e o belga FAL.
O arsenal iraquiano cresceu durante a guerra Irã-Iraque (1980-1988), no que o relatório descreve como "um momento crucial para o desenvolvimento do mercado global de armas modernas".
O Iraque também foi inundado por armas após a invasão de 2003, liderada pelos EUA, e este fluxo de armamento prosseguiu com os acordos firmados após a saída das tropas americanas, em 2011.
A Anistia destaca que os países exportadores –incluindo os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (EUA, Grã-Bretanha, França, China e Rússia)– tinham plena consciência dos riscos da transferência de armas para o Iraque, onde a corrupção é endêmica.
"A proliferação de armas no Iraque e na região vizinha destruiu vidas e acabou com a subsistência de milhões de pessoas. Ela representa uma ameaça permanente", afirma Wilcken.
"As consequências das transferências irresponsáveis de armas ao Iraque e à Síria e sua captura pelo EI devem ser um sinal de alarme para os exportadores de armas em todo o mundo".
A Anistia pede um embargo total do fornecimento de armas ao regime sírio e uma regra sobre a exportação de armas ao Iraque que vincule as transferências a avaliações estritas.
A Anistia pede ainda a ratificação do Tratado sobre Transferências de Armas (TTA) pelos países que ainda não o fizeram, como Estados Unidos, Rússia e China.
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