Criado em 2006, Cidadãos agrada à esquerda e à direita espanhola
Em 2006, ao concorrer ao Parlamento catalão, Albert Rivera posou nu em foto de campanha, as mãos tapando a virilha. "Não nos importa a roupa que você veste", dizia a peça, apresentando o recém-criado partido Cidadãos.
A depender dos resultados deste domingo, o jovem político –agora bem-vestido, aos 36 anos– pode ter em suas mãos a chave para formar o novo governo da Espanha.
O Cidadãos surgiu em 2006 como uma sigla contrária ao movimento nacionalista catalão. A ação ganhou força no resto do país. Neste ano, a sigla disputa pela primeira vez as eleições gerais.
Pierre-Philippe Marcou - 18.dez.2015/AFP | ||
Albert Rivera discursa no último dia de campanha das eleições |
Nestes últimos meses, o partido Podemos recebeu quase toda a atenção da mídia internacional, mas o Cidadãos pode ser a grande surpresa do pleito espanhol.
O Cidadãos tem uma vantagem diante de seus três principais rivais, que é ter um apelo tanto à direita quanto à esquerda no país, a depender das circunstâncias.
"É um partido de esquerda no sentido social, de liberdades e de direitos", diz à Folha o jurista Francesc de Carreras, um dos grandes nomes por trás do Cidadãos e mentor político de Rivera. "Mas é de centro-direita no sentido econômico", afirma.
O partido pode, por exemplo, atrair votos de eleitores descontentes com o PP. Mas, nas eleições regionais na Catalunha, foi beneficiado pelo voto de eleitores socialistas cansados da esquerda vinculada, ali, a um nacionalismo.
Jovem, charmoso e com um quê de irreverente, Rivera ganha pontos no quesito carisma em comparação aos candidatos do PP e do PSOE.
Mas, na avaliação de analistas políticos, ele perdeu algumas posições quando participou de debates na TV e apareceu como menos experiente do que os seus rivais, que têm atrás de si um já calejado maquinário político.
"Rivera foi deputado aos 26 anos, e ser jovem é seguramente um ponto positivo", diz Carreras. "Mas o mais importante é a mensagem contrária à corrupção."
Durante um comício acompanhado pela reportagem na sexta-feira (18), encerrando a sua campanha, Rivera insistia na ideia de que o Cidadãos é a única via para uma mudança -uma mudança "sensata" em comparação ao Podemos, afirmou.
Nesse mesmo sentido, o Cidadãos recebeu na semana passada o apoio da revista "The Economist", que declarou seu voto simbólico ao partido. A publicação louvava a ideia de uma reforma não apenas econômica mas também política na Espanha.
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