Belém espera redução de 20% dos turistas no Natal
A movimentação é grande na praça da Manjedoura, iluminada por uma árvore de Natal de 15 metros de altura. Mas, entre os transeuntes, são poucos os turistas à vista no local e na Igreja da Natividade às vésperas do 25 de dezembro em Belém, cidade onde, segundo a tradição cristã, Jesus nasceu.
Guias turísticos, comerciantes, jornalistas e grupos de jovens palestinos locais são mais visíveis, corroborando o temor da prefeitura de que, neste ano, o Natal será menos festivo.
A expectativa é de queda da ordem de 20% em relação a dezembro de 2014 na visitação de peregrinos cristãos.
Daniela Kresch/Folhapress | ||
Árvore de Natal na praça da Manjedoura, em Belém |
Se, ano passado, visitaram a cidade cerca de 80 mil pessoas no último mês do ano, em 2015 o número deve ficar em torno de 65 mil, o que significa menos estadias em hotéis, refeições e suvenires vendidos na cidade que vive do turismo religioso.
Para a prefeita, Vera Baboun, os peregrinos foram afugentados pelo mais recente ciclo de violência entre israelenses e palestinos.
"Quase não vemos turistas. Belém está vazia. A ocupação dos hotéis na noite de 24 de dezembro, nossa noite mais forte do ano, não vai superar os 40%", diz Baboun.
ALERTA
Entre janeiro e novembro, 798 mil turistas visitaram Belém, cerca de 20% a menos do que o mesmo período de 2014 (1 milhão).
No começo de dezembro, os EUA divulgaram um alerta para que visitantes a Israel e aos territórios palestinos tenham cuidado, reflexo do pânico causado pelos ataques terroristas em Paris e pela queda do avião russo no Egito, possivelmente abatido por uma bomba da facção terrorista Estado Islâmico.
A onda de violência, que nesta quarta deixou mais quatro mortos —dois israelenses e dois palestinos que cometiam agressões— começou em 13 de setembro.
Desde então, 24 pessoas morreram e 250 ficaram feridas em cerca de 150 ataques palestinos com facas, armas de fogo e atropelamentos em Israel e na Cisjordânia.
Do lado palestino, 119 pessoas morreram, 77 delas enquanto cometiam ataques a israelenses. Cerca de 3.000 palestinos ficaram feridos.
Abalada, a prefeita decidiu diminuir o tom das comemorações natalinas deste ano.
As ruas estão menos enfeitadas. Não houve apresentações musicais diárias e nem show de fogos de artifício.
"Como podemos demonstrar alegria quando somamos tantos mártires, muitos deles crianças? Vivemos num estado de anomalia que o mundo todo encara como normal", diz Baboun.
A cristã palestina Mariam Qassis, 23, que trabalha em uma agência de turismo em Belém, percebeu a queda na visitação de peregrinos. Muitos grupos foram cancelados. Às vezes, eu desligo a televisão para não ver o noticiário sobre mortos e feridos."
Para enfatizar o clima de comoção, um grupo de palestinos decidiu erigir uma "Árvore de Natal da Resistência" na praça da Manjedoura: uma oliveira com garrafas de gás lacrimogêneo usadas por soldados israelenses ao reprimir protestos e fotos de palestinos mortos ou detidos.
"Espiritualmente, o Natal é sempre o mesmo. Mas, politicamente, a situação está horrível. Não estamos comemorando muito porque muitos palestinos morreram. Temos que compartilhar não só a alegria, mas também a tristeza", diz a comerciante Mary Giacaman, 52, dona de uma das maiores lojas de souvenir de Belém.
Alheio à tensão, o turista nigeriano Elijah Idemudia, 37, não sente medo. Acompanhado por conterrâneos, ele se sente seguro em Belém. "Não percebi violência. Está tudo normal, tudo ótimo. É um privilégio estar aqui."
A situação é mais dramática porque em 2014 o conflito de 50 dias entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas já reduzira a visitação em dezembro em 17%. Mas é melhor do que em 2002, no auge da Segunda Intifada (levante palestino contra Israel), quando o número de visitantes foi tão baixo que nem foi registrado por estatísticas.
A situação começou a melhorar em 2009 e, em 2013, 115 mil turistas visitaram Belém em dezembro, um recorde.
Dos 35 mil habitantes da cidade, 78% são muçulmanos e 22%, cristãos.
O desemprego é de 27%.
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