Análise
Caracas deixa Brasília alarmada
O governo brasileiro está acompanhando com tanta preocupação o ambiente de tensão política na Venezuela que já estuda um pronunciamento cobrando "apaziguamento geral", conforme a Folha ouviu no Planalto.
O pronunciamento será, imagina o Itamaraty, "bem calibrado", para evitar habitual reação estapafúrdia do chavismo quando é criticado.
Fernando Bizerra Jr./Efe | ||
Dilma Rousseff recebe presidente venezuelano, Nicolás Maduro, no Itamaraty, em julho de 2015 |
Mas o governo brasileiro já não esconde a decepção com o governo de Nicolás Maduro, a ponto de pensar, em princípio, em cobrar, para o "apaziguamento geral", que seja respeitado o resultado eleitoral.
É a linguagem que tem sido usada por críticos e opositores do regime venezuelano para defender a posse da nova Assembleia Nacional com os 112 deputados oposicionistas eleitos, e não com a cassação de três deles pela Justiça —sabidamente controlada pelo chavismo—, com o que a oposição perderia a supermaioria conquistada nas urnas.
Mas, por cautela, o governo brasileiro considera que é preciso tanto examinar se há base legal na decisão da Justiça como também evitar um "pré-julgamento".
O Itamaraty criou uma espécie de telefone vermelho com o embaixador em Caracas, Ruy Pereira, e por ele tem recebido sinais preocupantes, tanto de parte do governo como da oposição.
Desta —em especial, do próximo presidente da Assembleia, Henry Ramos Allup, incomodam as seguidas sugestões de renúncia do presidente Nicolás Maduro.
O desencanto com o governo deve-se à constatação de que a Venezuela tem profundos problemas estruturais e conjunturais, que há muito tempo deveriam ter sido enfrentados.
O governo brasileiro fez, "amigavelmente", sugestões a respeito, inclusive de técnicos que poderiam auxiliar Caracas, mas Maduro preferiu insistir na tese de que enfrenta uma "guerra econômica", suposta causa de todos os problemas.
Nem os marxistas da academia bolivariana acreditam na tese, conforme fica claro em entrevista de Manuel Sutherland, responsável editorial da Associação Latinoamericana de Economistas Marxistas e professor de política econômica na Universidade Bolivariana da Venezuela.
"O governo continua com uma ideia equivocada da crise e inventa a tese da guerra econômica. Não tem o menor amparo prático nem empírico", disse Sutherland em recente entrevista ao sítio socialista "Sin Permiso".
Acrescenta algo que é o cerne da preocupação também em Brasília: "Se insistirem com o tema da guerra econômica, é pouco provável que consertem todos os problemas mais difíceis que a nação enfrenta".
Em Brasília, a ideia do "apaziguamento geral", acha o governo, é do interesse também da oposição. Sem ele, não há como enfrentar a gravíssima crise do país.
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