Sem freio da China, Coreia do Norte fica mais imprevisível e perigosa
Verdadeiro ou não, o anúncio da Coreia do Norte de que realizou seu primeiro teste da bomba H é mais uma prova dos limites da influência chinesa sobre o país.
Sem o freio de Pequim, um de seus únicos interlocutores políticos e maior parceiro econômico, o regime de Pyongyang torna-se ainda mais imprevisível e perigoso.
Nos últimos meses, o governo chinês vinha fazendo esforços para melhorar as relações com o regime norte-coreano, gélidos desde que o ditador Kim Jong-un herdou o poder supremo em Pyongyang, há cinco anos.
Entretanto, um incidente bizarro em dezembro mostrou a fragilidade dos laços entre os países: a banda pop norte-coreana Moranbong, formada apenas por mulheres, todas escolhidas a dedo por Kim, cancelou na última hora a apresentação que faria em Pequim para membros do Partido Comunista chinês.
No mesmo dia, o ditador anunciara que a Coreia do Norte possuía capacidade de detonar a bomba de hidrogênio, colocando Pequim em mais uma saia justa.
O teste anunciado por Pyongyang reforça o dilema do governo chinês. Embora tenha ampla capacidade de punir a Coreia do Norte economicamente por seu programa nuclear, Pequim teme que isso poderia causar séria instabilidade no país, com consequências indesejáveis para a China, como uma onda de refugiados em sua fronteira.
Além disso, o governo chinês rejeita o colapso do regime Kim porque ele eliminaria a zona-tampão exercida atualmente pela Coreia do Norte, levando para sua fronteira tropas norte-americanas estacionadas na Coreia do Sul.
Mesmo com o esfriamento das relações, a dependência da economia norte-coreana em relação à China continua enorme. A China é o principal fornecedor de alimentos, armas e energia para a Coreia do Norte, que tem com o vizinho 70% de seu comércio exterior. Mais de metade de suas exportações de carvão, sua principal commodity, vai para a China.
Bastaria que a China suspendesse ou mesmo reduzisse as compras do mineral ou limitasse a venda de petróleo para causar um grande impacto na economia norte-coreana, diz Gary Samore, principal assessor nuclear de Barack Obama em seu primeiro mandato e hoje professor da universidade Harvard.
"A China é o único país que pode fazer diferença", diz Samore à Folha. "Mas, até agora, por mais irritados que estejam, os chineses não parecem dispostos a ações concretas. Para a China, a grande ameaça é a instabilidade na península coreana, muito maior que o programa nuclear."
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis