'Guia de viagens' ao Estado Islâmico promove califado como bom destino
Siddhartha Dhar, 32, conhecido como Abu Rumaysah, é possivelmente o autor de um guia de viagens ao Estado Islâmico que circula na internet desde meados de 2015.
O livreto, disponível em buscas no Google, promove em 47 páginas o autoproclamado califado como um excelente destino –apesar de a capa ser ilustrada por uma imagem de Jerusalém, e não do território dominado pelos terroristas na Síria e no Iraque.
Divulgação | ||
Capa do guia de viagens ao Estado Islâmico, que traz imagem de Jerusalém, não do 'califado' |
Não há garantias sobre a autoria do guia de viagens, e tampouco é garantido que o documento seja verídico.
Mas o texto voltou a ser lido nesta semana após surgirem relatos de que Dhar aparece em um vídeo do Estado Islâmico executando reféns.
Ele seria uma espécie de sucessor do apelidado "Jihadi John" (João Jihadista, no original inglês), que apareceu em diversas imagens de decapitação de reféns –Mohammed Emwazi, nascido no Kuait, foi supostamente morto em novembro na Síria.
COQUETÉIS DE FRUTA
O guia, publicado em maio, tem uma breve introdução sobre a história da organização terrorista. Em seguida, um capítulo sobre a comida no autodeclarado califado.
Coquetéis de fruta, por exemplo: "São populares no verão e custam menos de US$ 1 –use sua imaginação para criar suas próprias misturas únicas. Você pode até se mimar adicionando leite, açúcar e gelo triturado".
O verbete sobre cafés e chás é outro destaque, prometendo os melhores cappuccinos, com leite cremoso e fresco. Também há promessas de sorvetes "aveludados" e "macios" no guia.
O texto elogia, ainda, o transporte, a tecnologia e o fato de que os membros do EI são cosmopolitas. A educação é também apresentada como ponto alto, já que não se ensina, ali, tópicos como "homossexualidade, evolução, música e teatro".
Assim, a "mente delicada de seu filho estará bem e realmente protegida no califado", escreve o autor. O território, além disso, tornou-se um "ímã para talentos".
Para além desse guia de viagens, cuja autenticidade não foi provada, há na internet uma série de paródias na mesma linha. Uma espécie de verbete falso em uma enciclopédia de tipo Wikipedia faz piadas sobre o tema, por exemplo. Dicas de segurança? "OK, essa simplesmente não é uma opção realista."
VÍDEO
Segundo a imprensa britânica, o mesmo autor desse guia de viagens aparece no vídeo divulgado no domingo pelo Estado Islâmico: um militante com sotaque britânico participando da morte de cinco suspeitos de ser espiões do Reino Unido.
Essa suposição, no entanto, tem bases frágeis. Um parente afirmou que a voz no vídeo se parece com a de Dhar. Uma jornalista que entrevistou o britânico no passado teve a mesma impressão. Mas especialistas em radicalismo britânico, como Shiraz Maher, têm duvidado dessa tese publicamente.
O novo "Jihadi John", caso confirmada sua nacionalidade britânica, não é o único estrangeiro entre os terroristas dessa organização. Há centenas de membros europeus. Um belga de mãe brasileira, Brian de Mulder, morreu recentemente na Síria, segundo sua família.
O governo britânico estima que 800 de seus cidadãos viajaram à Síria e ao Iraque, parte deles para se unir ao Estado Islâmico. Cerca de metade voltou ao país, e 70 foram mortos.
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