Grupo de oposição sírio suspende boicote a negociação da ONU
O principal grupo de oposição da Síria concordou em participar das negociações de paz patrocinadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) que começaram em Genebra, na Suíça, nesta sexta (29).
A decisão reverte o boicote anunciado pelo grupo mais cedo, que ameaçou esvaziar a primeira tentativa em dois anos de encontrar uma solução diplomática para a guerra civil síria, iniciada em 2011.
O enviado especial da ONU para o conflito sírio, Staffan de Mistura, convidou para as negociações em Genebra o governo do país e um grupo que reúne várias organizações oposicionistas sírias. A ideia era promover "conversas de aproximação", recebendo o governo e a oposição em eventos separados.
Até o último minuto, o Alto Comitê de Negociações (ACN), que reúne as entidades de oposição, se recusava a participar. A entidade, que inclui grupos armados e oponentes políticos de Assad, insistiu no fim dos ataques aéreos e cercos a cidades em território sírio antes que o diálogo começasse.
Na tarde desta sexta, porém, uma porta-voz do comitê, Farrah el-Atassi, anunciou que o grupo mandaria representantes a Genebra, ressaltando que não tinha a intenção de negociar diretamente com o governo sírio.
Jean-Marc Ferre/Reuters | ||
O enviado Staffan de Mistura (esq.) fala com o embaixador sírio na ONU, Bashar al-Jaafari, em Genebra |
De Mistura, que recebeu nesta sexta a delegação do regime de Assad, afirmou que, embora não tenha sido notificado oficialmente da presença do ACN, pretende se reunir com os oposicionistas no domingo (31).
Chefiados pelo embaixador na ONU, Bashar al-Jaafari, os representantes do governo sírio não deram nenhuma declaração.
Falando sob anonimato à agência Reuters, um oficial sênior do governo americano disse que o secretário de Estado do país, John Kerry, teve papel ativo nas conversas para convencer o grupo de oposição sírio a participar das negociações de paz na Suíça.
Outra força importante, os curdos –que controlam grande parte do nordeste da Síria– foram excluídos das negociações por exigência da Turquia, cujo governo está em confronto com os separatistas do Curdistão.
Para líderes curdos, sua ausência é um sinal de que as negociações estão fadadas ao fracasso.
CONFLITO
Calcula-se que, nos quase cinco anos da guerra civil síria, mais de 250 mil pessoas tenham morrido e 10 milhões tenham sido obrigadas a deixar suas casas –o que resultou num fluxo de refugiados para a Europa que bateu recordes no ano passado.
Os dois antecessores de Staffan de Mistura abandonaram o cargo após tentativas frustradas de armar negociações de paz.
Desde o último diálogo fracassado, em 2014, a milícia terrorista Estado Islâmico declarou um "califado" nas áreas sob seu domínio na Síria e no Iraque. Os EUA e seus aliados lançaram ataques aéreos contra o EI e, a partir de setembro de 2015, a Rússia –aliada de Bashar al-Assad– passou a bombardear posições de rebeldes e de milícia em território sírio.
A intervenção de Moscou, em particular, tem alterado o equilíbrio de forças, dando forte impulso para que o Exército sírio reverta meses de ganhos dos rebeldes.
Rami Abdulrahman, diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, entidade de oposição a Assad, relatou nesta sexta que as forças sírias, apoiada pelos russos, estão cercando subúrbios de Damasco dominado pelos rebeldes e provocando a fuga de centenas de civis.
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