Líderes, Trump e Cruz enfrentam 'fogo amigo' na corrida republicana
As ideias de Donald Trump são absurdas, irrealistas e idiotas. Esses ataques não partiram dos rivais democratas, mas de um editorial publicado pela "National Review", influente revista conservadora dos EUA, junto com um manifesto anti-Trump com textos de 22 intelectuais alinhados ao Partido Republicano -o mesmo pelo qual o bilionário tenta concorrer à Casa Branca em novembro.
Visto a princípio como curiosidade passageira, Trump manteve-se na liderança absoluta da corrida republicana (com 35,8%, na média das pesquisas compiladas pelo site Real Clear Politics) e acendeu um sinal de alerta na base conservadora, temerosa de que o bilionário sequestre os ideais do partido em nome de uma aventura personalista.
Scott Olson/AFP | ||
Os pré-candidatos republicanos Donald Trump (à esq.) e Ted Cruz, em debate no último dia 14 |
"Trump é um oportunista político sem âncora filosófica que jogaria no lixo o amplo consenso ideológico no Partido Republicano em troca de um populismo centralizador", diz o editorial, que conclui chamando o empresário de "uma ameaça ao conservadorismo americano".
RESPOSTA
Como de hábito, a resposta foi rápida e mirou o autor das críticas, não seu conteúdo. Trump disse que a "National Review" é uma "revista moribunda e fracassada que ninguém lê".
Ele aproveitou para promover a imagem de candidato "outsider" (fora do sistema) e usar o ataque para bater em seu principal concorrente, o senador ultraconservador Ted Cruz, que também enfrenta resistência na base republicana por promover uma guinada à extrema direita.
"Eu acho que o establishment está contra mim, mas eles estão se alinhando porque me veem como um opositor ao Cruz, que é um sujeito desagradável, que não se dá com ninguém", disse Trump. "Em certo momento, você tem que fazer acordos."
Embora mostre desdém à crítica conservadora, Trump sabe que não pode abrir mão da base republicana se quiser obter a nomeação do partido.
Eleição nos EUA - Republicanos
Segundo as pesquisas, o bilionário larga na frente nas prévias republicanas que abrem oficialmente a corrida presidencial, nesta segunda (1º), no Estado de Iowa.
Trump também está na frente nas duas prévias seguintes, em New Hampshire e na Carolina do Sul.
CRUZ E RUBIO
Em segundo (com 19,6%) e se aproximando do líder vem Cruz, que tem boa oratória, campanha bem organizada e deve contar com a maioria do voto evangélico. Mas seu discurso extremista nos temas principais da campanha, como imigração e combate à facção terrorista Estado Islâmico, criou desconforto entre líderes republicanos.
O temor é de uma guinada para a extrema direita que tornaria difícil bater Hillary Clinton, por enquanto a favorita como rival democrata.
"Acho que perderemos se ele for o nomeado", disse Orrin Hatch, o mais velho republicano no Senado (desde 1977). "Precisamos ter apelo entre moderados e independentes. Não podemos agir como se um ponto de vista fosse o único caminho a seguir. É aí que Ted terá problemas."
Ligado ao movimento de ultradireita Tea Party, Cruz tem sido consistente desde o início de sua campanha, buscando qualificar-se como o mais conservador entre os conservadores. Formado em Princeton, foi advogado e assessor de George W. Bush antes de se eleger senador pelo Texas. Seu discurso contra o establishment também lhe rendeu desafetos no partido.
Ficar entre Trump e Cruz é uma escolha que muitos no partido consideram um pesadelo. "É como levar um tiro ou ser envenenado", disse o senador republicano Lindsay Graham. "Qual a diferença?"
Enquanto o tom sobe na ruidosa disputa entre Trump e Cruz, o senador Marco Rubio aparece em terceiro lugar e corre por fora, tentando se promover como uma alternativa moderada. Jovem (44), Rubio tem apelo entre os hispânicos, por ser filho de cubanos, e é bom debatedor.
No manifesto publicado pela "National Review", os luminares conservadores não apoiam nenhum nome específico. Mas rejeitam Trump como o candidato republicano e lembram a inconsistência das posições do empresário, que já foi a favor de anistia para imigrantes ilegais e agora defende a deportação de todos os 11 milhões.
Também não perdoam a proximidade no passado com os democratas e as doações à campanha de Hillary ao Senado. O estilo grandioso, alegam, não combina com a crença no Estado mínimo.
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