Saída de Jeb Bush de corrida eleitoral favorece o 'trumpismo'
Jeb Bush era a óbvia opção para título de favorito quando lançou sua campanha, em junho do ano passado.
Com a experiência de dez anos como governador da Flórida e a grife política do pai e irmão ex-presidentes, era uma aposta segura para os conservadores moderados.
Oito meses, uma série de humilhações e US$ 150 milhões depois, Jeb abandonou a corrida no fim da noite deste sábado (20), amargando mais um decepcionante desempenho nas prévias do Partido Republicano.
Em uma irônica simetria, o empresário Donald Trump, que seria uma das principais causas do naufrágio do ex-governador, entrou na corrida um dia depois de Jeb, incendiando a campanha.
Yin Bogu - 15.jun.2015/Xinhua | ||
Jeb Bush no dia em que anunciou que concorreria à Casa Branca, em junho |
Com seu jeito agressivo e enorme habilidade para atraír mídia, Trump reescreveu as regras do jogo e atropelou o tom educado à moda antiga de Jeb.
Para o colunista Chris Cillizza, do jornal "The Washington Post", o moderado Jeb foi "mal escalado" para o show em que a campanha acabou se transformando por obra de Trump.
Sua campanha falhou em perceber que muitos republicanos não queriam planos para desfazer o legado do presidente Barack Obama, como Jeb propôs, mas "explodir tudo", afirma Cillizza.
"Bush deixa a corrida presidencial duramente castigado por um eleitorado republicano que parece querer um brigão de bar, não o capitão do time de esgrima", escreveu o analista.
Para o neto de um senador e filho e irmão de ex-presidentes, como sobreviver numa campanha cujo mote tornou-se o ataque ao poder estabelecido? Jeb apostou no mérito, exaltando sua experiência como governador.
"Mas ninguém dá a mínima", disse um republicano próximo da família Bush ao site Politico, observando que nesta campanha o que conta é a a personalidade, não a mensagem.
INVESTIMENTO EM VÃO
A imprensa americana estima que a campanha de Jeb Bush custou entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões, a mais cara de todas.
Desse montante, US$ 87 milhões foram usados numa ofensiva de comunicação, com anúncios de TV, vídeos online e ligações telefônicas.
"Já mal posso esperar pelo fim da campanha para parar de receber telefonemas de campanha", disse à Folha o aposentado Harry, num local de votação da primária da Carolina do Sul, no sábado. Trump ficou em primeiro, consolidando sua caminhada como favorito para ser o candidato republicano nas eleições presidenciais de novembro.
Jeb desistiu depois de ficar em um decepcionante quarto lugar, com 7,8% dos votos. Seu desempenho também foi desanimador nas duas prévias anteriores: em Iowa, estreou com apenas 2,8% dos votos, ficando em sexto.
Em New Hampshire, melhorou um pouco nas urnas, mas os 11% de votos lhe deram não mais que o quarto lugar.
Sem saber reagir ao bullying sofrido nas mãos de Trump, Jeb deixou logo nos primeiros debates de ser o candidato sério para se tornar a delícia dos comediantes dos programas de fim de noite.
A série de momentos constrangedores não se resumiu aos confrontos com Trump. Num dos mais patéticos, um vídeo que viralizou na internet mostra Jeb fazendo uma pausa num discurso para uma plateia sonolenta para pedir: "Por favor, aplaudam".
Também se deu mal ao partir para o confronto com o senador Marco Rubio (Flórida), menino prodígio do Partido Republicano e ex-afilhado político de Bush.
A cartada final de Jeb foi trazer a família para sua campanha; primeiro a mãe, Barbara, depois o irmão, George, contrariando todo o marketing inicial de que sua candidatura não era por pedigree político, mas por mérito.
A ideia de continuar a dinastia Bush, porém, não colou.
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