Juiz da Argentina intima Cristina a depor sobre perdas em venda de dólar
Pouco menos de três meses depois de deixar a Presidência da Argentina, Cristina Kirchner foi convocada pela Justiça a prestar esclarecimentos em um caso que investiga operações financeiras que, segundo estimativas, deverão provocar um prejuízo de cerca de 29 bilhões de pesos (aproximadamente R$ 7,3 bilhões) aos cofres públicos.
Néstor J. Beremblum - 9.dez.2015/Agência Eleven | ||
Cristina Kirchner em seu último discurso como presidente, em 9 de dezembro, na Casa Rosada |
Esta é a primeira vez que Cristina é convocada pela Justiça desde que deixou a Casa Rosada, o que enfureceu kirchneristas.
Além dela, o eX-ministro da Economia, Axel Kicillof, e o ex-presidente do Banco Central Alejandro Vanoli também foram convocados para explicações.
Vanoli já foi indiciado. A participação de Cristina e Kicillof no caso ainda está sob investigação.
A Justiça apura se houve má gestão de recursos pelo Banco Central, que turbinou as operações de venda de dólares no mercado futuro no fim do mandato de Cristina, entre setembro e novembro do ano passado.
Nessas operações, o BC vendeu US$ 17 bilhões em contratos, segundo a Justiça, que preveem pagamento neste ano, quando Cristina já não seria mais presidente.
A denúncia foi feita pelo partido do atual presidente, Mauricio Macri, ainda durante a campanha eleitoral de 2015, e foi encabeçada pelo atual ministro da Fazenda, Alfonso Prat-Gay.
VALORES
A polêmica está no valor do dólar negociado nesses contratos financeiros.
Segundo a perícia feita por um grupo de renomados economistas, entre os quais o ex-presidente do Banco Central, Martín Redrado, foi praticada uma cotação muito abaixo do valor de mercado –o BC vendeu dólares cotados entre 10 e 12 pesos enquanto no mercado futuro a moeda era negociada a 14 pesos.
No fim do ano passado, a nova administração do Banco Central negociou descontos com bancos que haviam comprado esses contratos. Mas uma grande parcela continua em vigor e será cobrada até junho.
A Justiça quer saber se Cristina tinha conhecimento dessas operações.
"Um presidente não pode permitir que se exponha a administração pública a uma dívida tão importante sem seu conhecimento. E, se a conhecia, a pergunta é 'por que não fez nada para interrompê-la?'", disse Redrado à Folha.
"Como se cobre essa perda? Emitindo mais moeda, o que está gerando mais inflação", acrescentou.
Na ocasião, Vanoli argumentou que a venda servia para estimular a queda do dólar, para conter a inflação.
Nesta sexta (26), ele escreveu em uma rede social que o macrismo alimentou expectativas de desvalorização do peso (alta do dólar) "para favorecer certos setores".
"Uma pena que o atual governo convalidou uma desvalorização que duplicou a inflação, que até outubro tinha tendência de baixa."
Cristina e Kicillof não haviam se pronunciado até a conclusão desta edição.
Nas redes sociais, kirchneristas protestaram contra a intimação a Cristina no dia 13 de abril. "Se citam a #Ela, nos citam a todos. Em 13/4 vamos aos tribunais", escreveu o peronista Martín Sabbatella.
Desde que Cristina deixou o poder, foram abertos processos contra pelos menos sete de seus aliados.
Ela também é alvo de investigação em um suposto caso de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro, que era conduzida pelo mesmo juiz que apura as operações com o dólar futuro: Claudio Bonadio.
Em julho de 2015, ele foi removido do caso pois a defesa alegou parcialidade do juiz em suas decisões.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis