O que você precisa saber sobre os confrontos desta Superterça
Nesta Superterça (1º), os pré-candidatos republicanos e democratas disputam prévias se seus partidos em 11 Estados cada. São 859 deputados de 4.763 em jogo no lado democrata, e 595 de 2.472 deputados, no republicano. São necessários 2.382 delegados para conseguir a candidatura democrata, e 1.237, a republicana.
Saiba o que é importante acompanhar nos confrontos desta terça-feira.
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A 'diversidade' de Trump
O magnata republicano Donald Trump, que lidera com certa vantagem na contagem dos delegados (82 contra 17 do segundo colocado, o senador Ted Cruz), pode mostrar nesta terça-feira (1º) que consegue ser muito mais plural do que seu discurso histriônico sugere.
Ele é o favorito nas pesquisas nos liberais Vermont e Massachusetts, na centrista Virgínia e nos conservadores Oklahoma e Alabama. Está à frente nas sondagens em oito dos 11 Estados –do Alaska à costa leste, dos Estados do sul ao nordeste– que terão prévias nesta terça.
Suas recentes vitórias, em New Hampshire, na Carolina do Sul e em Nevada, já mostravam que sua mensagem antissistema tem forte apelo entre eleitorados diversos.
Se as bases do partido já se perguntam agora se ainda é possível parar o polêmico bilionário no caminho à candidatura republicana, o cenário pode ficar ainda mais assustador após esta terça.
Se os resultados seguirem a tendência das pesquisas nos 11 Estados, Trump ficaria com 268 delegados, contra 152 do segundo lugar, Ted Cruz, e 129 do senador Marco Rubio, terceiro colocado. Isso significa que Trump aumentaria a distância de 65 delegados para 116 sobre Cruz e mais do que dobraria sua diferença sobre Rubio: de 66 para 139.
O peso do Texas
O Texas, o segundo Estado com maior número de delegados, 155, atrás apenas da Califórnia (172), pode ser crucial na definição do segundo colocado.
Ted Cruz e Marco Rubio estão hoje praticamente empatados no número de delegados – 17 contra 16, respectivamente– mas só o Texas, Estado natal de Cruz e onde ele é favorito, pode jogar o senador 27 delegados à frente do oponente, se for mantida a tendência das pesquisas.
A diferença até pode ser revertida nas prévias seguintes, mas quanto antes um dos pré-candidatos consolidar uma vantagem, melhor se posicionará para conseguir apoio político e financeiro contra o líder Trump.
Além disso, o Texas é o único Estado em que um outro pré-candidato tem reais chances de ficar à frente de Trump. Segundo a média de pesquisas feitas pelo site Real Clear Politics, Cruz tem 36,2% das intenções de voto no Estado contra 26,6% do empresário. Isso também reforçaria o capital político de Cruz, que poderia colocar-se como a única opção capaz de derrotar Trump.
Gary Cameron/Reuters | ||
O republicano John Kasich participa de debate na Universidade George Mason em Arlington, na Virgínia |
Fim da reta para dois republicanos?
Os lanternas da disputa republicana, o governador de Ohio, John Kasich, que tem hoje 6 delegados, e o neurocirurgião aposentado Ben Carson, com 4 delegados, podem travar nesta Superterça, sua última disputa.
Isto porque ficará cada vez mais longe –e improvável– que eles representem uma real ameaça aos três primeiros candidatos, Trump, Cruz e Rubio.
Se a tendência das pesquisas se confirmar, Carson pode ganhar até 40 delegados nos 11 Estados. Kasich, 33. Com isso, Carson e Kasich ainda teriam que conseguir 1.193 e 1.198 delegados, respectivamente, nos próximos meses, para conseguir os 1.237 necessários para a candidatura. Isso significa mais de 70% dos delegados que ainda estarão em jogo a partir de quarta-feira (2): ou seja, uma opção praticamente impossível.
Olhando para outros números –o dos exorbitantes gastos de campanha–, fica fácil imaginar que a Superterça significará o fim da reta para os dois pré-candidatos.
Jonathan Ernst/Reuters | ||
Hillary é apresentada em comício por apoiadora em Denmark, na Carolina do Sul, em 12 de fevereiro |
Hillary e o voto negro
Líder na corrida democrata, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton deve ganhar os Estados do sul que votam nesta Superterça, mas a sua diferença para o único oponente, o senador Bernie Sanders, dependerá de como ela se sairá entre os eleitores negros.
Uma pesquisa da Public Policy Polling divulgada em 17 de fevereiro mostra que, entre o eleitorado negro nos Estados do sul, Hillary mais do que dobra sua vantagem sobre Sanders em alguns deles.
No Arkansas, por exemplo, a diferença entre os dois passa de 25 pontos percentuais, contando todos os eleitores, para 62 pontos, entre o eleitorado negro. No Alabama, ela sobe de 28 para 45, na Geórgia, de 34 para 56, e no Tennessee, de 26 para 59.
Na prévia da Carolina do Sul, Hillary obteve 87% dos votos negros, uma aprovação ainda maior do que o presidente Barack Obama tinha conseguido no Estado, em 2008.
Assessores de Hillary consideram que a reeleição de Obama, quando ele conquistou apenas 39% do voto branco, prova que os democratas não vencem mais eleições cortejando os eleitores independentes brancos, mas levando as minorias às urnas.
Em sua campanha, Hillary fala cada vez mais de discriminação e desigualdade. São comuns, nos discursos de campanha de Hillary, chamados contra o "racismo sistêmico", seguidos por uma longa lista de áreas, como habitação e saúde, em que ela afirma que as disparidades preponderam nos EUA.
Enterro de Sanders?
O senador Bernie Sanders, defensor do "socialismo democrático", chegou como um 'outsider', fez barulho, levou a primária de New Hampshire, mas pode ter seu fim na corrida democrata decretado após esta Superterça.
Não que ele esteja tão atrás assim de Hillary, contando somente os delegados: são 90 contra 65, menor que a diferença do lado republicano entre o primeiro e o segundo colocados. No entanto, a ex-secretária de Estado já tem o apoio de 453 superdelegados, contra 20 de Sanders, o que garante uma vantagem, já agora, de 458 votos para Hillary (são necessários 4.763 para se candidatar).
São 859 deputados em disputa do lado democrata nesta terça. Destes, segundo as pesquisas, é possível que Hillary leve cerca de 480, o que faria com que seu total ultrapassasse 1.000 delegados e superdelegados. Neste mesmo cenário, Sanders terminaria a Superterça com 464 delegados e superdelegados no total.
Dos 11 Estados que votam nesta terça, o senador só é favorito em um deles, Vermont, sua terra natal. O problema é que Vermont é o Estado com menos delegados nesta terça –e junto com Delaware, o que tem menos delegados em todo o país. Mesmo com 84,5% de popularidade em Vermont, os 16 delegados do Estado não poderão ajudá-lo.
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