Tabloide diz que rainha apoia saída do Reino Unido da UE; palácio nega
O Palácio de Buckingham anunciou nesta quarta-feira (9) que entrou com uma queixa num órgão regulador de imprensa do Reino Unido contra o tabloide "The Sun", por causa da manchete da edição desta quarta, segundo a qual a rainha Elizabeth 2ª seria a favor da saída do Reino Unido da União Europeia.
"Rainha apoia Brexit (aglutinação de Britain e "exit", saída em inglês)", estampa a capa do diário. Os britânicos votam, em referendo no dia 23 de junho, se querem ou não permanecer no bloco.
Segundo um porta-voz de Buckingham, "a rainha permanece politicamente neutra, como ela tem sido por 63 anos [de reinado]. O referendo é uma questão para o povo britânico decidir".
O pedido incomum do palácio de reclamar ao Ipso (Organização Independente de Padrões de Imprensa, na sigla em inglês) faz menção à cláusula primeira do Código de Conduta dos Editores, que proíbe "informação imprecisa, distorcida ou enviesada".
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"Rainha apoia Brexit", diz a capa do tabloide "The Sun" desta quarta |
O jornal diz que a rainha teria expressado seu descontentamento com o bloco europeu em um almoço em 2011 com o então vice-premiê Nick Clegg, liberal-democrata e abertamente pró-UE. A monarca teria dito que o bloco estava indo na direção errada.
De acordo com uma "fonte sênior", diz o "The Sun", as pessoas que presenciaram o diálogo "não tiveram nenhuma dúvida de qual era a visão da rainha sobre a integração europeia".
Por sua conta no Twitter, Clegg afirmou que avisou ao jornalista do "Sun" se tratar de uma "bobagem". "Não tenho lembrança desse acontecimento, e não é o tipo de coisa do qual eu me esqueceria", escreveu.
Segundo a imprensa britânica, os assessores de Buckingham estariam especialmente irritados com o fato de a conversa ter sido em 2011, muito antes de se saber que haveria um referendo sobre a UE e quando não existia ainda o termo "Brexit".
Esta é a tida como a primeira vez que Buckingham recorre ao Ipso, órgão criado em setembro de 2014 na esteira do escândalo do tabloide "News of the World", que fazia reportagens com base em grampos telefônicos ilegais.
O palácio não fez queixa ao órgão, por exemplo, quando o mesmo "Sun", em julho do ano passado, publicou na capa uma foto de Elizabeth 2ª, quando criança, aparentemente fazendo uma saudação nazista. As determinações do Ipso não têm força de lei –ou seja, os jornais acatam se quiserem.
REFERENDO
Em fevereiro, o premiê David Cameron fechou um acordo com a UE que concedeu "status especial" aos britânicos para evitar a saída do bloco. O acordo restringe os direitos de imigrantes europeus que trabalham no país, e só depois de quatro anos de contribuição à Previdência eles poderão ter uma complementação, paga a trabalhadores de baixa renda.
Cameron também ganhou a queda de braço com o presidente da França, François Hollande, sobre o poder britânico para impedir que regulações europeias afetassem a City de Londres, o mercado financeiro que responde por 14% do PIB britânico. A City continuará a ser controlada pelo Banco da Inglaterra, o banco central do país.
Diante das concessões feitas pela UE, Cameron pediu aos britânicos que votem a favor da manutenção do país no bloco, por considerar que o Reino Unido já obteve as garantias que queria.
Mas ministros de seu gabinete já declararam apoio ao Brexit, além de políticos importantes, como o prefeito de Londres, Boris Johnson. A polêmica em torno do apoio ou não da rainha deve trazer ainda mais incerteza em torno do resultado da votação.
Segundo as últimas pesquisas de opinião, há uma leve vantagem para o "sim" à permanência, com 51% das intenções, ante 49% do "não".
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