Após abusos, papa cria regras para fiscalizar gastos com canonizações
O papa Francisco impôs novas regras de responsabilização financeira sobre os processos de canonização após a revelação de graves abusos.
As novas normas determinam vigilância externa sobre as contas bancárias do Vaticano criadas para assuntos de canonização.
Elas preveem também um acompanhamento constante do orçamento e da contabilidade para garantir que as doações estejam sendo usadas corretamente nos processos.
Giuseppe Ciccia - 2.mar.2016/Brazil Photo Press/Folhapress | ||
O papa Francisco antes da audiência semanal na praça São Pedro, no Vaticano |
As diretrizes do papa surgem após dois recentes livros feitos com base em documentos confidenciais do Vaticano revelarem que a estrutura da Santa Sé para as canonizações gasta centenas de milhares de euros para cada candidato a santo, mas que praticamente não há nenhuma supervisão financeira sobre ela.
Os livros estimam que o custo médio para cada causa de beatificação gira em torno de € 500 mil (pouco mais de R$ 2 milhões).
O novo documento, chamado de "Rescriptum ex Audientia Sanctissimi", foi assinado pelo papa, em 4 de março, de modo "experimental", com validade de três anos, e revoga as normas anteriores, assinadas pelo papa João Paulo 2º em 1983.
FUNDO DE SOLIDARIEDADE
Além de impor regras para deixar claro de onde vêm os recursos para todo o processo, o papa ainda instituiu um Fundo de Solidariedade, que deve ser utilizado para apoiar as causas dos "candidatos" mais pobres.
Na questão da transparência, o documento estabelece que os custos na fase do processo que tramita em Roma precisam ser apoiados pela Sede Apostólica e que devem ser criados o posto de administrador e um sistema de vigilância sobre a administração.
Está vetado, com exceção de autorização expressa e justificada, o uso do Fundo de Solidariedade para funções além dos processos de canonização, e os balanços financeiros devem passar por auditoria.
O documento ressalta que as causas de beatificação e canonização, por sua complexidade, precisam de muito trabalho e comportam despesas "para a divulgação do conhecimento da figura do Servo de Deus ou Beato, para a investigação diocesana ou paroquial, pela fase romana e, enfim, para as celebrações de beatificação ou canonização".
SEM PRAZO
Não há um prazo específico para uma beatificação ou canonização –quando o beato se torna santo.
O processo pode demorar décadas. Um dos mais rápidos foi o do papa João Paulo 2º, canonizado em 2014, apenas nove anos após sua morte.
A canonização mais veloz da história ocorreu em 1231. Santo Antônio de Pádua foi aclamado santo um mês após morrer.
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