FBI alertou Holanda com antecedência sobre irmãos que atacaram Bruxelas
Seis dias antes dos atentados em Bruxelas, o FBI (polícia federal dos EUA) informou a polícia da Holanda sobre os antecedentes criminais e o "histórico terrorista" dos irmãos Khalid e Ibrahim el-Bakraoui, dois dos três homens-bomba envolvidos nos ataques à capital belga do dia 22, que deixaram 35 mortos e cerca de 340 feridos.
A informação foi passada pelo ministro holandês do Interior, Ard van der Steur, em resposta a um questionário de 166 perguntas feito pela Câmara de Deputados da Holanda no dia 24, como parte de uma investigação da Casa sobre o que o governo sabia a respeito do grupo que organizou as ações na vizinha Bélgica.
O Ministério do Interior enviou as respostas aos deputados na segunda (28), que se tornaram públicas nesta terça (29).
AFP | ||
Irmãos Khalid (à esquerda) e Ibrahim el-Bakraoui, que cometeram ataques suicidas em Bruxelas |
De acordo com Van der Steur, "no dia 17 de março [um dia depois de receber o aviso do FBI] houve um contato bilateral entre os serviços policiais da Holanda e da Bélgica". Nessa reunião, segundo a resposta por escrito do ministro, "o histórico radical dos irmãos foi discutido".
Em nota divulgada nesta terça (29), a polícia federal da Bélgica nega ter tido conversas sobre os irmãos Bakraoui no dia 17, quando um representante holandês foi a Bruxelas. De acordo com os belgas, falou-se sobre um tiroteio em Bruxelas ocorrido no dia 15, quando um atirador muçulmano foi morto, mas não houve menção ao relatório do FBI enviado ao governo holandês.
FALHAS
O episódio expõe ainda mais falhas de comunicação dos serviços de inteligência da Bélgica e da Holanda, que não conseguiram impedir os ataques apesar dos alertas externos sobre os envolvidos, especialmente os irmãos Bakraoui.
Em julho de 2015, Turquia deteve o belga Ibrahim, 29, sob a suspeita de que ele queria chegar à Síria para se unir à facção terrorista Estado Islâmico. Como a Bélgica não pediu sua extradição, afirmando não haver crime comprovado contra Ibrahim, ele foi enviado para a Holanda em 14 de julho do ano passado.
Na resposta aos deputados, o ministro holandês diz que a polícia belga perguntou no dia seguinte (15 de julho) a Amsterdã se o nome de Ibrahim constava nos sistemas de segurança holandeses. Nada foi encontrado na busca. O governo turco afirma, porém, que tanto a Bélgica quanto a Holanda foram avisadas de que Ibrahim estava sendo deportado e era um "combatente estrangeiro".
Como Ibrahim é cidadão belga, voltou a poder circular livremente dentro do Espaço Schengen (que garante esse direito em 22 dos 28 países-membros da UE) e, por isso, a Holanda afirma não ter registro de quando ele voltou à Bélgica.
Segundo Van der Steur, as autoridades americanas lhe confirmaram que só incluíram Ibrahim numa lista dos serviços de inteligência para indivíduos de "possível ameaça terrorista", à qual o governo holandês não tinha acesso, em 25 de setembro de 2015, quando provavelmente ele já havia voltado para a Bélgica.
O irmão dele, Khalid, 27, estava na lista de procurados da Interpol desde dezembro, acusado de atividades terroristas depois de a polícia ter descoberto que ele alugou, com um nome falso, um apartamento usado pela célula dos ataques de novembro.
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