Ted Cruz usa mulher como arma na disputa contra Donald Trump
Tem uma imagem de sua mulher que Ted Cruz, 45, o senador texano egresso do Tea Party, guarda com particular carinho: Heidi Cruz, 43, atirando por esporte, e os dizeres "armada e linda" bordados no boné.
O pré-candidato republicano à Casa Branca descreveu a cena na quarta (30), em comício do grupo "Mulheres por Cruz", ao lado da mulher, da mãe, Eleanor, e da ex-rival Carly Fiorina.
Scott Olson/Getty Images/AFP | ||
Heidi Cruz discursa para eleitoras que compareceram ao evento de campanha do marido em Wisconsin |
Ao louvar a destreza de Heidi no gatilho, o presidenciável mirava Donald Trump.
O empresário está em apuros com o eleitorado feminino após uma série de episódios classificados como misóginos —de enviar a uma colunista do "New York Times" a foto dela sob a legenda "canhão!" a ter seu braço-direito, Corey Lewandowski, detido na terça-feira (29) por suposta agressão a uma repórter.
Também Heidi virou alvo de Trump, que compartilhou na internet montagem comparando-a com sua mulher, a ex-modelo Melania Trump. A chamada: "Uma imagem vale mais que mil palavras".
Em debate na CNN, Anderson Cooper disse que o empresário parecia "uma criança" por repetir "ele que começou!" para justificar o gesto. Trump acusa Cruz de ter compactuado com uma peça de propaganda usando a imagem de uma revista de 2000 com sua mulher nua.
A expectativa é que, daqui para frente, Heidi ganhe protagonismo na campanha. "Parte da estratégia de Cruz é mostrar que ele tem uma mulher de sucesso e é pai de duas meninas", diz a professora da Universidade de Nova York Jeanne Zaino.
"O desafio, contudo, é que ele ainda não mostrou como pode atrair eleitoras, em parte porque tem posições que muitas feministas acham problemáticas, como ser contra o aborto em todas as circunstâncias."
Mas seria injusto dizer que a contribuição de Heidi seria apenas a de capitalizar votos de mulheres fartas de Trump.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
CARREIRA
Antes do tratamento "sra. Cruz", vem um currículo extenso. A californiana conheceu o pai de suas filhas, Caroline Camille, 7 e Catherine Christiane, 5, quando os dois trabalhavam a três baias de distância, na campanha de 2000 de George W. Bush.
Com Bush eleito, foi ela, e não Ted, a convocada para trabalhar no Conselho de Segurança Nacional, sob o comando de Condolezza Rice.
Heidi tem diploma da Escola de Negócios de Harvard. Sua conta no LinkedIn (rede social com foco profissional) ainda exibe o cargo de diretora administrativa no Goldman Sachs. Ela trabalhava no escritório de Houston até se licenciar para auxiliar.
Sua conexão com um dos maiores bancos de investimento do mundo, envolvido na crise financeira de 2009, já respingou em Ted, afeito à cruzada populista contra o establishment. "Ele está na cama com Wall Street", escreveu Trump no Twitter.
Num perfil de 2013, o "New York Times" a definiu como "o tipo de pessoa que os simpatizantes do Tea Party que celebram as posições antiestablishment adoram odiar".
Não foi fácil trocar a carreira em Washington para viver no Texas com o marido, que no começo não decolou. No livro "A Time for Truth", o republicano escreveu que a mudança "a levou a enfrentar um período de depressão".
Em 2005, um policial de Austin recebeu um chamado sobre uma mulher de camisa rosa sentada na rampa de uma via expressa, cabeça em mãos, nenhum veículo por perto. Era Heidi.
Diz ela que a fé a salvou. Na juventude, passou vários verões em missões evangelizadoras com a família na África —são da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Hoje ela vai à congregação batista de Ted, mas mantém diretrizes que diz ter colhido na fé dos pais: ser "atlética" e "vegetariana".
O casamento, ao menos na frente das câmeras, não foi abalado pela reportagem de um tabloide acusando seu marido de ter cinco amantes.
Cruz viu o dedo do rival na história. "Ei, Donald, se você quer uma briga, fica comigo, porque a Heidi é muita areia para o seu caminhão", afirmou ao canal Fox Business.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis