Pai do primeiro-ministro britânico é citado em caso de fraudes fiscais
Diversos líderes europeus tiveram de se manifestar nesta segunda-feira (4) após serem citados ou indiretamente relacionados às investigações do "Panama Papers, em que um consórcio de jornalistas publicou milhares de dados sobre como o escritório panamenho Mossack Fonseca abria empresas offshore para operações como lavagem de dinheiro.
Dentre os mais importantes, o premiê britânico, David Cameron, preferiu o silêncio, e o presidente russo, Vladimir Putin, usou seu porta-voz para falar em "putinofobia".
O caso com maior repercussão envolve o pai de Cameron, Ian, que aparece entre as centenas de clientes presentes nos mais de 11 milhões de documentos do Mossack Fonseca, vazados primeiramente para o jornal alemão "Süddeutsche Zeitung". Em 2012, a mídia britânica já havia reportado que Ian Cameron, morto em 2010, administrava uma rede de fundos de investimentos offshore para aumentar a fortuna da família. Não há evidências de que ele tenha feito alguma operação ilegal.
REUTERS/Dylan Martinez | ||
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, em coletiva de imprensa depois do ataques na Bélgica |
A porta-voz de Cameron se recusou a comentar se a família do premiê tinha investimentos em fundos desse tipo. Ao ser questionada se poderia confirmar se algum dinheiro da família estava investido nesses fundos, disse: "Esse é um assunto privado [da família]". "Eu devo informar o que o governo faz."
Na Rússia, o porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitry Peskov, afirmou que as denúncias contra o líder são parte de uma ação para desestabilizar o governo. De acordo com o Consórcio Internacional dos Jornalistas Investigativos (ICIJ), um amigo de Putin, o violoncelista Sergey Roldugin, comandava uma rede de pessoas próximas ao presidente que movimentou ao menos US$ 2 bilhões em bancos e empresas offshore. O nome de Putin não é citado em nenhum dos documentos.
Peskov disse nesta segunda que há uma "putinofobia" e desdenhou do trabalho dos jornalistas. "Estávamos esperando mais resultados dessa comunidade jornalística, eles descobriram pouca coisa nova (...). Isso tem como alvo o público externo. Está claro que o nível de 'putinofobia' chegou a tal ponto que é impossível falar bem da Rússia. É preciso falar mal da Rússia."
As investigações também repercutiram na vizinha Ucrânia. De acordo com os papéis da Mossack Fonseca, o presidente Petro Poroshenko abriu uma empresa offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, a Prime Asset Partners Ltda, em 21 de agosto de 2014. Registros da firma em Chipre o identificam como o único acionista. Pelo Twitter, Poroshenko respondeu: "Acredito que eu seja o primeiro alto funcionário da Ucrânia que se preocupa profundamente em declarar bens, em pagar impostos e com conflitos de interesse."
Mais tarde, Poroshenko escreveu um post no Facebook. "Após me tornar presidente, não participo da administração de meus bens, deleguei essa responsabilidade a consultorias e escritórios de advocacia. Espero que eles forneçam todos os detalhes necessários à mídia ucraniana e internacional."
A situação mais desconfortável é a do premiê da Islândia, Sigmundur Gunnlaugsson. Parlamentares da oposição afirmaram nesta segunda (4) que planejam pedir uma moção de censura a Gunnlaugsson, exigindo a convocação de eleições gerais. No vazamento do "Panama Papers", o líder islandês aparece como tendo sido proprietário de 50% da offshore Wintris Inc, nas Ilhas Virgens Britânicas, entre 2007 e 2009, quando sua mulher, Anna Sigurlaug Pálsdóttir, passou a ter o controle acionário integral da empresa.
Gunnlaugsson afirmou não haver "nada de novo" nas investigações e disse que não vai renunciar. Em uma entrevista à TV sueca SVT, ele foi questionado sobre a empresa e, irritado, abandonou a entrevista. "O que você quer fazer aqui? Isso é totalmente inapropriado", diz Gunnlaugsson ao entrevistador. Mais tarde, o premiê pediu desculpas por sua atitude.
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