Governo da Islândia indica novo premiê e convoca eleições antecipadas
Sigtryggur Johannsson/Reuters | ||
Sigurdur Ingi Johannsson, vice-líder do Partido Progressista, foi indicado para ser o novo premiê da Islândia |
A coalizão de centro-direita que governa a Islândia decidiu indicar o ministro de Pesca e Agricultura, Sigurdur Ingi Johannsson, vice-líder do Partido Progressista, para ser o novo premiê do país. O anúncio foi feito no mesmo dia em que a oposição revelou que chegou a um acordo com a coalizão para que sejam realizadas novas eleições nacionais, que devem ocorrer no segundo semestre.
As duas medidas foram anunciadas nesta quarta-feira (6), um dia depois da renúncia de Sigmundur David Gunnlaugsson, que deixou o cargo de primeiro-ministro após as revelações dos "Panama Papers". O vazamento de arquivos revelou que sua mulher era proprietária de uma empresa offshore com grandes créditos nos bancos islandeses.
Mais cedo, um comunicado divulgado pelo escritório de Gunnlaugsson chegou a alegar que ele não havia renunciado formalmente ao cargo de premiê, mas apenas se afastado por um período indeterminado, segundo reportagens divulgadas pelo "New York Times" e pelo "Independent". A indicação de um novo primeiro-ministro e a convocação de eleições, entretanto, indicam que ele não voltará ao governo.
Os partidos de oposição no Parlamento islandês aceitaram a indicação do novo premiê e acertaram com a coalizão a realização de eleições antecipadas, segundo a líder do Partido Pirata Birgitta Jonsdottir. O Partido Pirata lidera as intenções de voto na Islândia, indicam as pesquisas mais recentes.
Indicado para ser o novo primeiro-ministro, Johannsson disse que vai buscar a aprovação do presidente do país para poder governar a Islândia. Segundo ele, a coalizão permanece intacta mesmo após a renúncia do seu antecessor. Johannsson deve se reunir nesta quinta (7) com o presidente Olafur Ragnar Grimsson.
Segundo a Associated Press, entretanto, legisladores da oposição ainda vão pedir que o Parlamento seja dissolvido para antecipar as eleições. Segundo Helgi Hrafn Gunnarsson, do Partido Pirata, o governo está tentando se segurar no poder após a renúncia de Gunnlaugsson.
EPA | ||
Sigmundur David Gunnlaugsson renunciou ao cargo de primeiro-ministro após revelação de que mantinha conta não declarada em paraíso fiscal |
Após a revelação dos vazamentos sobre offshores, Gunnlaugsson chegou a rejeitar deixar o cargo na segunda (4), mas cedeu aos protestos de milhares de islandeses que pediram sua saída.
Segundo os papéis vazados, ele e sua mulher criaram em 2007 a offshore Wintris, nas Ilhas Virgens Britânicas, para administrar a fortuna da família dela. Gunnlaugsson manteve 50% das ações até 2009, quando vendeu sua parte à mulher por US$ 1.
Não há evidências de que o premiê tenha usado a offshore para fins ilícitos, como sonegar impostos, e ele nega ter cometido irregularidades, mas o fato de ele nunca ter falado publicamente sobre o assunto enraiveceu os islandeses, que viram nisso uma tentativa de esconder dinheiro no exterior.
O tema é especialmente delicado na Islândia, pois a economia do pequeno país europeu de 330 mil habitantes quebrou em 2008 por um esquema em que bancos usavam offshores para ocultar operações financeiras de risco.
Gunnlaugsson assumiu em 2013 justamente com o discurso de coibir essa prática e de manter o patrimônio dos islandeses em seu próprio país.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis