Rival de Trump, Cruz antecipa escolha de vice; analistas veem desespero
Após perder para Donald Trump em cinco Estados, por margens que superaram 50 pontos, Ted Cruz anunciou na quarta (27) Carly Fiorina, ex-rival e ex-presidente da Hewlett-Packard, como sua vice para concorrer à Casa Branca.
Rara, sobretudo para alguém que sequer lidera a corrida entre republicanos, a antecipação do número dois foi vista como ato de desespero. Cruz está 392 delegados atrás do empresário, que tem 954 a seu favor. Só faltam 502 deles (20% do total) nas dez prévias que restam.
Sua única esperança é impedir que Trump supere 50% de apoio partidário. Sem essa maioria na convenção nacional republicana, em julho, o líder corre o risco de ser expelido na chamada "convenção disputada".
Se nenhum oponente obtiver ao menos 1.237 delegados, vota-se de novo, agora com a maioria deles livre para indicar o candidato que preferir. Na primeira rodada, representantes estaduais escolhem o candidato mais votado em seus Estados.
No ato em Indiana —que sela em primária do dia 3 o apoio de 57 delegados—, Cruz aderiu a uma estratégia inédita há 40 anos no partido.
Em 1976, por coincidência ou não, ocorria a última convenção disputada da legenda. Um dos aspirantes, Ronald Reagan, "sentou" Richard Schweiker na cadeira de vice antes da hora. Saiu pela culatra: o senador era moderado demais para a conservadora base republicana.
Reagan perdeu para Gerald Ford, depois derrotado pelo democrata Jimmy Carter.
Única mulher entre os 17 aspirantes iniciais, Fiorina jogou a toalha em fevereiro. Um mês antes, atacou Cruz ("ele faria qualquer coisa para ser eleito"), mas depois passou para o seu lado. Trump resgatou, no Twitter, as declarações anti-Cruz de Fiorina. "Concordo!"
Em comício nesta quarta, o magnata atacou o senador pela escolha. "Ele não pode ganhar, o que está fazendo apontando vice?"
Cruz prometeu o "grande anúncio" um dia após sua derrota, que repercutiu como prego em caixão para sua candidatura. Fiorina criticou o clima de "já ganhou" que a mídia teria reservado a Trump e Hillary Clinton, a vitoriosa democrata da véspera.
A ex-chefe da megacorporação Hewlett-Packard disse que os dois não desafiam "a elite" e "o sistema", pois fazem parte de ambos. A vice é nativa do Texas, reduto eleitoral do senador. "Foi a primeira coisa que gostei nela", disse Cruz, nascido no Canadá.
Ele lembrou que sua nova sócia eleitoral foi alvo de Trump, que em 2015 caçoou de sua aparência. "Olhem para aquele rosto! Alguém votaria nisso?"
Pela manhã, Cruz afirmou que "Trump gosta de cair de paraquedas, como se fosse Mick Jagger num estádio de futebol, fazendo sua performance e depois indo embora".
Em três dias, é seu segundo esforço para deter Trump.
Na segunda (25), ele e o terceiro lugar na competição republicana, John Kasich, acordaram em revezar suas campanhas em alguns Estados, ampliando a chance de um deles bater Trump lá. A aliança não vingou.
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