Trump prepara plano B e retórica de roubo em caso de convenção disputada
Donald Trump tem um plano B caso enfrente uma convenção disputada, e ele envolve o tipo de organização externa que ele mesmo já definiu como "corrupta".
Embora o pré-candidato ainda possa garantir a indicação republicana nas cinco semanas que restam de primárias, Trump e seus aliados estão simultaneamente promovendo um esforço paralelo, caso isso se prove insuficiente.
Grupos externos, entre os quais um liderado por Roger Stone, veterano aliado político de Trump, e uma frouxa coleção de partidários extravagantes, como os "Bikers for Trump" [motoqueiros por Trump], estão se organizando para a convenção que acontecerá em julho em Cleveland.
Mike Blake - 28 abr. 2016/Reuters | ||
Apoiadores de Donald Trump durante evento de campanha em Costa Mesa, Califórnia |
Eles estão buscando doações para bancar transporte e alojamento e já estão tentando influenciar o clima da convenção com uma campanha de mídia social segundo a qual qualquer outro resultado que não a indicação de Trump seria um "roubo".
"Nosso principal foco agora é Cleveland", disse Stone sobre seu grupo, chamado Stop the Steal [impeça o roubo]. "Queremos levar o maior contingente possível para demonstrar a amplitude do apelo de Trump, para que o partido possa ver explicitamente o que perderão caso roubem a indicação que deveria ser dele".
O Stop the Steal e outros grupos vêm ganhando força ainda que Trump tenha insistido que não deseja ajuda de doadores à sua campanha, e que não tem compromissos com nenhum grupo. Os comitês de ação política "são um desastre, na verdade", disse Trump em um debate republicano em março. "Muito corruptos".
O Stop the Steal tecnicamente não é um comitê de ação política, mas opera sob regras semelhantes.
Na última semana, os advogados de Trump enviaram à Comissão Eleitoral Federal uma carta reiterando a reprovação da campanha a grupos que usam seu "nome, imagem, efígie ou slogans a fim de solicitar doações". Todas as organizações que estão planejando atividades em Cleveland usam repetidamente o nome de Trump em seu material.
Trump preparou o terreno para aquilo que as organizações externas estão fazendo ao proferir comentários provocadores sobre a forma complexa do processo republicano de seleção de candidato —ele o definiu como "viciado". Os eleitores se manifestam, mas cada Estado tem regras próprias sobre que delegados vão à convenção e como eles devem votar em um indicado a presidência quando chegarem a ela.
O Stop the Steal e outros grupos pró-Trump difundem a mesma mensagem na mídia social e em sites. "O grande roubo está em curso", afirma uma carta on-line, definindo os delegados desfavoráveis a Trump como "paus mandados".
A coalizão liderada por Stone que pretende operar em Cleveland inclui organizações como a We Will Walk, Bikers for Trump, Citizens for Trump e Women for Trump. Stone disse que o objetivo era levar milhares de pessoas às ruas para manifestações pacíficas.
Alan Freed - 24 abr. 2016/Reuters | ||
Membros do grupo Bikers for Trump participam de evento em Warrendale, na Pensilvânia |
"Estamos preparados para derrubar o Partido Republicano se eles mexerem com Trump e tentarem lhe tirar a candidatura por meio de truques sujos", disse Paul Nagy, republicano de New Hampshire. Ele comanda o We Will Walk, grupo que recolheu mais de 41 mil assinaturas on-line de pessoas que afirmam que Trump merece a indicação.
CONTRAPARTIDA ESTRATÉGICA
A ofensiva de relações públicas é uma contrapartida à estratégia cuidadosamente definida por Ted Cruz, principal rival de Trump à indicação republicana, que recorre a trabalho corpo a corpo para recrutar delegados favoráveis, na esperança de que possa conquistar a indicação caso Trump não a obtenha na primeira rodada de votação.
Neste final de semana, no Arizona, Cruz conquistou mais uma vitória estratégica sobre Trump, conquistando numerosos delegados amistosos, selecionados para ir a Cleveland, enquanto os partidários de Trump parecem ter sido virtualmente barrados. Os delegados têm a obrigação de votar em Trump na primeira rodada da votação na convenção, porque ele venceu no Estado, mas depois podem mudar seu voto e optar por Cruz.
Embora Cruz esteja jogando de acordo com as regras do partido, a afirmação de Trump, de que aquilo que seu adversário está fazendo equivale a "roubar", ecoa junto ao eleitorado.
Na metade de abril, depois que Cruz conquistou todos os delegados do Colorado, a dona de casa Erin Behrens disse que se sentiu enojada com o que estava acontecendo com o seu candidato. Por isso, a Stop the Steal a ajudou a organizar protestos no Estado.
Stone e um aliado, Greg Lewis, voaram ao Colorado para ajudar Behrens a responder e-mails e organizar um comício. No evento, realizado em 15 de abril em Denver, cerca de 200 manifestantes carregaram faixas e cartazes com dizeres como "Banana Republicans!" e "Impeçam o Roubo".
Behrens declarou em entrevista na semana passada que vai continuar a organizar os partidários de Trump no Colorado. "Se houver trapaça e eles deixarem claro que Trump não será indicado, o Stop the Steal Cleveland será uma coisa", ela disse. "Mas teremos eventos, protestos, em todo o país. Pode contar com isso".
ARRECADAÇÃO DE FUNDOS
Boa parte do que essas organizações externas vêm fazendo agora envolve arrecadação de fundos.
"A realidade é que precisamos de US$ 262 mil nas duas próximas semanas", afirma o site da Stop the Steal. "Se você não pode ir a Cleveland, por que não ajuda quem pode? Você poderia nos doar US$ 500, US$ 200, até mesmo US$ 100, para esse esforço crucial?"
Outra organização pró-Trump, o Great America PAC, também está arrecadando dinheiro para um esforço em Cleveland. O presidente da organização é William Doddridge, presidente-executivo da Jewelry Exchange.
Seus comerciais alertam que "as elites do partido" tentarão tirar a indicação de Trump na convenção e sugerem que as pessoas impeçam que isso aconteça ligando para um número de chamada gratuita e doando dinheiro.
A organização realmente precisa de ajuda. Seu mais recente relatório de arrecadação de fundos, que cobre o período encerrado em março, mostrou que ela tinha US$ 600 mil em dívidas. O comitê de ação política pode receber doações ilimitadas de empresas, pessoas e sindicatos. Os advogados de Trump solicitaram especificamente que a organização interrompa suas operações.
O Stop the Steal não é um comitê de ação política, a forma de organização externa que mais atrai a ira de Trump, disse Stone. Mas a distinção é irrelevante.
O grupo foi constituído como organização política sem fins lucrativos, "tipo 527", e precisa apresentar relatórios periódicos sobre seus doadores e gastos à Receita Federal norte-americana e não à comissão eleitoral. Da mesma forma que um comitê de ação política fiscalizado pela Comissão Eleitoral Federal, um grupo 527 por arrecadar quantias ilimitadas de dinheiro junto a pessoas, empresas e sindicatos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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