Análise
O que Hillary precisa fazer para derrotar Trump
A inesperada retirada de Ted Cruz depois da derrota para Donald Trump na prévia em Indiana, na terça (2), levou o candidato populista, polarizador e estranho à elite política a garantir a candidatura republicana à Presidência dos EUA, e fez de Hillary Clinton, sua provável rival em novembro, seu alvo.
Trump definiu Cruz como "oponente difícil", deixando a cortesia apenas para aqueles a quem derrota. Contra rivais, ele dispara insultos e campanhas de difamação.
Spencer Platt - 3.maio.2016/Getty Images/AFP | ||
Magnata republicano Donald Trump fala a partidários após vitória nas primárias de Indiana |
Trump já montou uma campanha para forçar o presidente Barack Obama a divulgar sua certidão de nascimento, alimentando uma teoria conspiratória racista segundo a qual Obama teria nascido no Quênia, sendo assim inelegível à Presidência.
No dia da prévia em Indiana, Trump afirmou que o pai de Cruz esteve com o homem que matou John Kennedy pouco antes que este matasse o presidente, em 1963, repetindo a afirmação dúbia de um jornal sensacionalista.
Hillary, vítima de décadas de falsas acusações, provavelmente será mais fria ao atacar Trump do que Cruz.
A campanha da ex-secretária de Estado, ciente de que não é sábio competir com Trump em insultos, já sinalizou que retratará o magnata como um candidato de alto risco cujo temperamento instável e declarações desprovidas de conteúdo em política interna e externa ilustram o seu despreparo para ser presidente e comandante-em-chefe das Forças Armadas.
Após a vitória de Trump em Indiana, John Podesta, chefe de campanha de Hillary, disse que "o próximo presidente terá de fazer duas coisas: manter os EUA seguros e ajudar as famílias de trabalhadores a avançar, aqui em casa. Trump não está preparado para nenhuma delas".
A campanha de Hillary tem recolhido provas sobre negócios de Trump que não foram escrutinados rigorosamente.
Mas ela precisa de respostas melhores para acalmar a controvérsia sobre o uso de um servidor privado para enviar e-mails do Departamento de Estado quando era chanceler, algo que Trump usará. E evitar reagir quando ele retomar as acusações sobre o assédio sexual do marido dela, o ex-presidente Bill Clinton, a outras mulheres —a batalha é perdida.
Hillary deve convencer seu rival pela candidatura, o senador Bernie Sanders, a mobilizar seus partidários por ela. E contar com Obama, ainda popular entre democratas e independentes, para defendê-la publicamente.
Na média das pesquisas feita pelo site Real Clear Politics, Hillary tem 6,5 pontos percentuais sobre Trump.
A recente afirmação do republicano de que Hillary só atraía as eleitoras de seu sexo deve garantir a ela a parte do leão do voto feminino. O racismo e a xenofobia do republicano também devem dar a ela a vasta maioria dos votos negros e hispânicos.
Ainda assim, "nenhum demagogo americano chegou tão perto do poder nacional", escreveu o articulista e editor David Remnick sobre Trump na revista "New Yorker".
Sobre o resultado da eleição, porém, é difícil crer que o eleitor médio norte-americano venha a eleger Trump.
MICHAEL KEPP, jornalista americano radicado há 33 anos no Brasil, é autor do livro "Um pé em cada país" (Tomo Editorial)
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