Análise
Desastre aéreo aumenta pressão política sobre presidente do Egito
Ainda não há confirmação da causa do desastre aéreo desta quinta-feira (19), envolvendo um avião da companhia aérea EgyptAir rumo ao Cairo com 66 pessoas a bordo. Também não se sabe se houve alguma responsabilidade por parte do governo egípcio.
Mas, enquanto não se descarta a possibilidade de um atentado terrorista, e mesmo na hipótese de uma falha técnica, a queda do avião pesará em cima dos ombros do presidente Abdel Fattah al-Sisi —de quem se espera a segurança e a estabilidade econômica do país.
Sisi tornou-se presidente após o golpe militar que depôs o islamita Mohammed Mursi em 2013. Ele chegou ao poder em meio a ostensivas ações contra militantes no deserto do Sinai, com a promessa de ser a mão firme a garantir a estabilidade no país.
Sisi também assumiu a Presidência, eleito, como um líder forte o suficiente para enfrentar a crise econômica, que em primeiro lugar havia empurrado multidões para manifestar-se em 2011, no início da Primavera Árabe, e livrar-se do então ditador Hosni Mubarak.
Houve, no entanto, uma série de ameaças à segurança do Egito nos últimos anos. Em outubro, um avião explodiu na península do Sinai, matando 224 pessoas. O Estado Islâmico reivindicou o ataque, por meio de uma filial local.
Em março deste ano, um avião da EgyptAir foi desviado ao Chipre em um crime passional. Apesar de não ter havido vítimas, não faltaram críticas à segurança nos aeroportos egípcios —quando a reportagem embarcou em outro voo da EgyptAir nesta semana, funcionários pareciam mais concentrados no Instagram do que no monitor do raio-x das bagagens.
Há também constantes embates no norte da península do Sinai envolvendo o Exército e militantes extremistas. A zona é inacessível, hoje, devido à instabilidade.
Outro golpe severo foi a morte do estudante italiano Giulio Regeni, cujo corpo foi encontrado em fevereiro com marcas de tortura. Há acusações sobre uma possível participação do governo egípcio nesse caso, o que tem afugentado alunos estrangeiros no Cairo.
Com os ataques, o turismo —já em baixa— desmoronou no país. Em março, se estimava uma perda de US$ 1,3 bilhão causada pelo atentado de outubro, no Sinai.
A Folha esteve em diversos dos pontos turísticos do Egito nos últimos meses, colossos da Antiguidade, e encontrou poucos turistas. Moradores locais, consultados após a queda do voo de quinta-feira, já lamentavam a possibilidade de perdas futuras.
O turismo é uma das principais atividades econômicas do Egito. Não há estatísticas precisas sobre a contribuição do setor, mas estima-se que esteja em torno de 13% do PIB (Produto Interno Bruto).
As crises de segurança e economia, aliadas a uma crescente repressão no país, já têm dado mostras de rachar o muro de temor erguido nos últimos anos.
Manifestações, como as de sindicatos locais, têm aos poucos desafiado o governo. Em diversos casos, resultando na detenção de ativistas. Mas, de alguma maneira, enviando ainda assim uma mensagem clara ao presidente: o país ainda espera a estabilidade prometida.
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