Obama anuncia fim do embargo de venda de armas ao Vietnã
O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou nesta segunda-feira (23) o fim dos 50 anos de embargo à venda de armamento americano ao Vietnã, um dos últimos vestígios da guerra entre os dois países (1955-1975).
Além do fator histórico da medida, a retirada da limitação acontece no momento em que os Estados Unidos reforçam sua presença na Ásia devido ao aumento dos gastos militares e das disputas territoriais da China.
Jim Watson/AFP | ||
Presidente dos EUA, Barack Obama, participa de coletiva de imprensa durante visita ao Vietnã |
O anúncio foi feito em Hanói, durante visita com o presidente vietnamita Tran Dai Quang. Em entrevista coletiva após o encontro, Obama negou que o fim do embargo tenha sido em reação a Pequim.
"A decisão de acabar com o embargo está baseada no desejo de completar o que tem sido um longo processo de normalização. Na atual fase, desenvolvemos um nível de confiança e cooperação que inclui nossos militares".
Antes da queda das restrições, o Vietnã comprava a maior parte de seu armamento militar da Rússia, parceira desde a União Soviética. O país comunista reatou as relações com os EUA em 1995, 20 anos depois do fim da guerra.
Analistas de segurança e adidos militares asiáticos esperam que a primeira compra vietnamita nos Estados Unidos seja de equipamentos para melhorar a cobertura de radares, drones e de um avião de patrulhamento P-3 Orion.
Apesar de ter relações com o Partido Comunista chinês, o país é um dos afetados pelas reivindicações de soberania de Pequim no mar do Sul da China. Na região, as autoridades chinesas constroem ilhas para marcar território.
DIREITOS HUMANOS
Segundo Obama, a venda de armas só será autorizada se o Vietnã se comprometer a não cometer violações de direitos humanos e cada compra será avaliada e autorizada pelos Estados Unidos caso a caso.
Está previsto na agenda de Obama um encontro com ativistas da oposição ao regime vietnamita na terça (24). Apesar de nos últimos anos o país ter oferecido maior abertura, a repressão a seus dissidentes continua.
A decisão foi tomada após intenso debate dentro do governo americano. A maior preocupação era que, com o fim do embargo, as autoridades vietnamitas continuassem a cometer as violações e não fizessem as reformas políticas.
O diretor da ONG Human Rights Watch para a Ásia, Phil Robertson, disse que o Vietnã vai continuar a prender ativistas de direitos humanos, jornalistas e blogueiros nas ruas e em suas casas.
"De uma só vez, o presidente Obama descartou o que sobrava das ferramentas que os Estados Unidos tinham para forçar o Vietnã a melhorar a questão dos direitos humanos sem receber nada por isso", disse.
Na parte comercial, o Vietnã acertou a compra de cem aviões da Boeing para a companhia VietJet, avaliada em US$ 11,3 bilhões (R$ 39,6 bilhões). Obama disse ter confiança também nos benefícios da Parceria Transpacífico.
Junto com o presidente vietnamita, o americano reiterou sua esperança de que ela seja aprovada pelo Congresso, onde encontra forte resistência. "Continuo confiante e a razão pela qual permaneço confiante é que é o correto", disse.
Os 12 países signatários do acordo são Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura, Estados Unidos e Vietnã. Representam 40% da economia mundial.
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