Mesmo em baixa, família Kirchner mantém reduto no sul da Argentina
Os supostos casos de corrupção que envolvem a família Kirchner não são suficientes para abalar a popularidade dos ex-presidentes argentinos Néstor (1950-2010) e Cristina em seu reduto turístico na Patagônia.
Em El Calafate (2.700 km ao sul de Buenos Aires), onde a família mantém dois hotéis, moradores se dizem gratos aos Kirchners, mas afirmam que as denúncias contra eles devem ser apuradas.
Marcos Brindicci - 11.abr.2016/Reuters | ||
A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner acena para seguidores ao chegar a Buenos Aires em abril |
Cristina é investigada por lavagem de dinheiro, suborno, falsificação de documentos públicos e prejuízo aos cofres públicos. Antes de morrer, em 2010, Néstor também era alvo de denúncias.
"Sou consciente da corrupção que houve, mas o de agora [o presidente Mauricio Macri] parece pior. Quando cheguei aqui, nos anos 2000, Calafate estava esquecida. Os Kirchners chegaram e colocaram tudo [de infraestrutura]", diz Verónica Diaz, 38, que trabalha em um hotel.
As eleições presidenciais no ano passado também revelam o apoio que a família tem na localidade. No departamento do Lago Argentino, região que engloba três outras cidades além de Calafate, o sucessor de Cristina, Daniel Scioli, teve 68,45% dos votos ""bem acima dos 48,6% que conseguiu no país todo.
Foi no período de Néstor como governador de Santa Cruz (onde fica El Calafate) que o aeroporto da cidade foi construído. Antes, os turistas viajavam até Río Gallegos, capital da província, e seguiam 300 km por estrada.
Com Néstor na Presidência, vias foram asfaltadas e o setor imobiliário, impulsionado. A venda de terras do Estado foi permitida para atrair moradores à cidade. O preço do metro quadrado era de US$ 1,50 (R$ 5,40).
Os melhores terrenos, em áreas hoje nobres, ficaram para os Kirchner e amigos (algo que se investiga até hoje), mas a população também pôde comprá-los.
Com a política da venda de terras, houve um boom no setor hoteleiro (garantindo hospedagem aos turistas, que antes ficavam em casas de famílias) e no número de habitantes, que passou de 6.410 em 2000 para 16.655 em 2010. A estimativa é que hoje 21 mil pessoas morem na cidade.
Na época de Cristina no poder (2007-2015), foram inaugurados um hospital de alta complexidade e um anfiteatro para 25 mil pessoas, quase não usado. "Utilizam o espaço uma vez por ano, mas Cristina fez muito por Calafate", afirma a guia de turismo Karen Marquestau, 25, que se diz neutra politicamente.
"Ela também fez muito por seus hotéis", afirma, rindo, já que os investimentos na região favoreceram as empresas da ex-presidente.
Há, porém, moradores que têm admiração por Néstor, mas repulsa a Cristina, tida como arrogante. "Néstor vivia na rua, tomava café com o povo", contou uma funcionária pública que não quis se identificar. Questionada sobre os casos de corrupção, respondeu: "É tudo verdade."
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