Chances de Sanders minguaram, mas comícios ainda atraem multidão
Nove mil pessoas compareceram a um comício em Davis, Califórnia, na semana passada, para ouvir o senador Bernie Sanders discursar. Algumas se acomodaram sobre o teto de um estacionamento para vê-lo de longe.
Em Palo Alto, Califórnia, alguns dos 4.000 fãs do candidato montaram barracas e abriram guarda-sóis para se protegerem do sol escaldante.
A espera para quem quis ouvir o discurso de Sanders em Irvine, Califórnia, onde 6.000 pessoas lotaram um anfiteatro, chegou a cinco horas.
Uma das pessoas que esperou foi o psicólogo escolar Al Pappalardo, 59, que levou sua filha Alix, 22, para o que descreveu como "o último ato de resistência" de Sanders.
"É como uma turnê de despedida", disse Al Pappalardo. "Minha filha vai olhar para trás e dizer 'eu participei. Eu não me abstive.'"
As chances de Sanders ser escolhido o candidato presidencial pelo Partido Democrata praticamente desapareceram desde a vitória importante de Hillary Clinton em Nova York em abril, com Nova Jersey, Califórnia e quatro outros Estados promovendo primárias nesta terça-feira (7).
Na noite de segunda (6) a Associated Press informou que Hillary já conseguiu o número de delegados necessário para garantir sua indicação.
Mas não é o que se imagina vendo os partidários entusiasmados que se reúnem para ouvir Bernie Sanders lançar seu chamado por uma revolução política e a transformação da economia da América.
Algumas pessoas comparecem por solidariedade com a mensagem dele; outras porque acreditam em Sanders quando ele, contrariando todas as probabilidades, diz que ainda tem chances de conseguir ser escolhido o candidato na convenção do Partido Democrata em julho.
E há muitos que, independentemente de como encaram a corrida presidencial, comparecem aos comícios de Sanders para ter o que acreditam que talvez seja sua última chance de assistir a um fenômeno político.
O engenheiro mecânico Hafeez Alam, 26, de Irvine, disse que sua mãe lamentou não ter ido ver Barack Obama em pessoa em 2008 e que a mesma coisa não vai acontecer com ele.
"É um pouco como ouvir sua banda favorita no YouTube, assistir aos shows dela e ver os DVDs, mas, quando você vai a um evento ao vivo, é uma experiência totalmente diferente", falou Alam no mês passado, no comício em Irvine.
ATOS DE CAMPANHA
Os comícios de Sanders —ele vem promovendo pelo menos um praticamente todos os dias nos últimos 15 dias— não têm o clima de uma campanha que está morrendo.
Seus fãs recitam partes conhecidas de seu discurso de campanha, repetindo palavras de ordem como "a saúde é um direito, não um privilégio" e gritando o valor médio das doações feitas à sua campanha: "27 dólares!".
Eles carregam cartazes feitos à mão dizendo "Bernie ou nada", "Bernie sensação", "acorde, América, sinta o cheiro do café. Está Berning (trocadilho com 'queimando')". Eles dançam ao som de "Talkin' Bout a Revolution", de Tracy Chapman, e "Power to the People", de John Lennon.
Ambulantes ainda vendem camisetas, buttons e bonés de Bernie Sanders.
Lauren Steiner, 58, organizadora principal da campanha de Bernie em Los Angeles e uma de várias pessoas que estavam vendendo camisetas do candidato diante de um comício em Santa Monica, Califórnia, disse que Sanders tem apenas uma "chance pequena" de conseguir a indicação do Partido Democrata, mas que vale a pena ter uma camiseta Bernie 2016 assim mesmo, no mínimo por razões sentimentais.
"Eu tenho uma camiseta que diz 'impeachment para George Bush', e ainda a uso", ela disse. "É como um pôster. É como um button. Eu guardo pôsteres e buttons de causas que foram importantes para mim ao longo dos anos."
Sanders, que se negou a ser entrevistado, está praticamente acampado na Califórnia, na esperança de que uma vitória nesse Estado o ajude a persuadir centenas de superdelegados —líderes partidários que podem mudar seu voto a qualquer momento antes da convenção— a deixar de apoiar Hillary para apostar nele.
Parece haver poucas chances de isso acontecer, e os comícios mais recentes do senador têm sido marcados por um tom mais indignado, pontuado por insultos e vaias quando são mencionados os nomes de Hillary ou do provável candidato republicano, Donald Trump.
Como o próprio Bernie Sanders, alguns dos seguidores dele se negam a admitir sua derrota. "Acho que ele ainda tem boas chances", disse Bianca Villegas, assistente jurídica em San Diego que foi a um comício em National City no mês passado. "Ele vai ter que encarar uma luta monumental, mas acho que é possível."
Muitos, porém, se dão conta de que podem estar vendo Sanders na campanha pela última vez. Chuck Hollis, 69, de West Sacramento, assistiu a três comícios de Sanders nas últimas semanas e diz que alguns de seus amigos caçoaram dele por ter ido a tantos.
Mas ele disse que fazer parte da multidão de partidários "dá muita satisfação" e que ele quer demonstrar seu apoio a Sanders "de maneira muito concreta".
"Ele tem 74 anos e poderia continuar no Senado, mas, pelo fato de ser mais velho, não sei se há muito mais o que ele pode fazer", disse Hollis. "Mas acho ou espero que ele tenha motivado muitas pessoas mais jovens a levar adiante e tentar implementar algumas de suas propostas."
Tradução de CLARA ALLAIN
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis