Opinião
'Lobos solitários' são peça central da estratégia de expansão do EI
Reprodução/MySpace | ||
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O americano Omar Mateen, 29, disse ter matado 49 pessoas na boate gay Pulse em nome do EI |
O Estado Islâmico (EI) está transformando o modo como os lobos solitários são usados pelos extremistas islâmicos. Ele difere de maneira significativa da Al Qaeda no modo como vê os ataques cometidos por indivíduos em seu nome.
O EI mobiliza simpatizantes para atuar como recrutas ativos em sua campanha militar, ao contrário da Al Qaeda, que tende a ver os simpatizantes como parte de um esforço em longo prazo para adquirir legitimidade.
O Amaq, um dos braços de mídia do EI, reivindicou a responsabilidade pela chacina cometida no domingo por Omar Mateen em uma boate gay em Orlando, na Flórida. Mas as autoridades americanas acreditam que Mateen simplesmente usou o nome do EI como emblema e não era um agente treinado do grupo.
O Amaq também assumiu o crédito pelo assassinato de um comandante de polícia e sua mulher perto de Paris. A agência de notícias descreveu os perpetradores em ambos os casos como "combatentes" do EI, termo que o grupo jihadista usa alternadamente com "soldados".
AFP | ||
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Larossi Abballa, que matou um policial francês e sua mulher em Paris, jurou lealdade ao Estado Islâmico |
Os ataques se seguiram a uma recente declaração de Abu Muhammad al-Adnani, um porta-voz do EI, em que ele pediu que os simpatizantes desferissem ataques em seus países durante o mês de Ramadã. Este foi o segundo desses apelos feitos por Adnani no período de um ano. Em junho de 2015 ele pediu que os seguidores em todo o mundo fizessem do Ramadã um "mês de calamidade" para os infiéis.
Segundo autoridades, Mateen telefonou para a polícia e afirmou sua lealdade ao EI durante o massacre que deixou 49 pessoas mortas. Depois de um ataque anterior nos EUA, em San Bernardino em dezembro de 2015, um dos terroristas, uma mulher, foi relacionada a uma publicação no Facebook em que declarava seu apoio ao EI.
A Al Qaeda se apresenta como um movimento de vanguarda cujo objetivo é convocar as massas muçulmanas à causa da jihad. A própria existência de simpatizantes significa que seu projeto está funcionando, e assim é visto como um ganho por si só.
O EI, por outro lado, vê os simpatizantes como potenciais recrutas para seu exército. A Al Qaeda também faz isso de tempos em tempos, mas o EI é diferente porque vê a mobilização dos simpatizantes estrategicamente, mais que como uma tática de vingança ou um chamado à ação em curto prazo.
Fontes da Jabhat al-Nusra, um grupo afiliado à Al Qaeda que atua na Síria, consideram contraproducentes os ataques em pequena escala de simpatizantes da jihad. Elas acreditam que o EI está "sangrando" muçulmanos extremistas no Ocidente e considera que essa estratégia favorece os governos ocidentais.
O EI e a Al Qaeda também diferem na maneira como veem as baixas civis. A Al Qaeda tende a se concentrar em atingir marcos físicos como embaixadas e hotéis, e vê os civis mortos durante esses ataques como danos colaterais, justificáveis em termos religiosos. Para o EI, entretanto, os civis são o alvo preferido. Eles devem ser atacados até que "cada vizinho tema seu vizinho".
Em sua declaração em maio, Adnani disse aos seguidores que nos países ocidentais não há civis inocentes. Segundo ele, os que hesitam em atacar alvos não militares devem lembrar que "nas terras dos cruzados beligerantes não há santidade de sangue".
Atacar civis é "mais amado por nós e mais eficaz, pois é mais prejudicial, doloroso e um maior dissuasor para eles". Isto marca um claro distanciamento estratégico.
É importante lembrar que durante a maior parte de sua existência desde que foi fundado, em 2004, o EI foi uma organização iraquiana. Só depois de sua expansão à Síria em 2013 ele passou a assumir um enfoque internacional e a expandir suas redes no exterior.
No futuro, os ataques de lobos solitários formarão uma peça central de sua estratégia internacional em desenvolvimento, e por isso eles provavelmente se tornarão mais comuns, pois o EI incentiva seus simpatizantes a se unirem à jihad global.
HASSAN HASSAN é professor convidado no Instituto Tahrir para Políticas do Oriente Médio e coautor de "Isis: Inside the Army of Terror".
Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES
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