Idade, escolaridade e região dividem população britânica sobre UE
O empresário John Sheldon, 72, é capaz de listar de imediato sete pontos que, diz, provam que é melhor o Reino Unido deixar a União Europeia. Mais autonomia e poder de decisão aos britânicos têm destaque no discurso.
Já seu filho Mathew, 32, prefere ficar no bloco para evitar isolamento e reclusão. Para ele, a UE trouxe prosperidade, paz e estabilidade.
Assim como os Sheldons, os demais britânicos chegam divididos ao plebiscito desta quinta (23) sobre a permanência (ou não) do país na UE.
'Brexit' - o plebiscito britânico
A média das pesquisas compilada pelo jornal "Financial Times" até a véspera da consulta mostrava empate técnico, com 45% pela saída e 47% pela permanência. Já nas casas de apostas, dominava a expectativa de ficar.
A participação no plebiscito não é obrigatória e, além dos britânicos, podem votar irlandeses e cidadãos da Comunidade Britânica (associação de 53 países ligados historicamente à Coroa) que morem no Reino Unido.
Numa cédula de papel, eles precisam escolher entre duas opções: "permanecer membro da UE" ou "deixar a UE".
Quem quis participar da consulta teve até o início do mês para se registrar. Além de ir às seções eleitorais, abertas nesta quinta das 7h às 22h (3h às 18h em Brasília), havia a opção de votar pelo correio –neste caso, as cédulas são enviadas às residências dos eleitores, que precisam devolvê-las antes das 10h do dia de votação.
MAIS DIVISÕES
Dados do instituto YouGov mostram que 73% dos que têm até 29 anos querem ficar, e 63% dos que têm mais de 60 preferem deixar o bloco.
"Os jovens são mais tranquilos sobre a imigração e não se lembram de um único momento em que não estávamos na UE", avalia o professor de política Tim Bale, da Universidade Queen Mary, observando que todas as pesquisas avalizam a divisão.
"Eles também veem a Europa como oportunidade de viajar e trabalhar, sobretudo os que estão na universidade ou acabaram de se formar."
Os mais velhos, por sua vez, verbalizam o desejo de ver o Reino Unido como líder mundial e creem que ao deixar o bloco vão recuperar o peso de outrora, ainda que o mundo tenha ficado mais dinâmico e globalizado.
Mas a divisão não é só geracional, observa o professor de política e relações internacionais da Universidade de Kent Richard Whitman.
"Os jovens são mais cosmopolitas, mas, quanto maior o nível de escolaridade, maior a tendência a votar pela permanência", diz o professor, emendando que não está claro se o fator mais relevante é idade ou classe.
O instituto YouGov aferiu que nas classes A e B a permanência lidera por 24 pontos. Já nas classes C e D vence a saída —em muito porque nesse segmento tem apelo o discurso de que os imigrantes "roubam" empregos.
"Não adianta esperar que sem os europeus haverá mais oportunidade. É preciso se qualificar e ter bom currículo", diz Brandon Calvin, 35, que passa os dias pedindo dinheiro como voluntário de instituição de caridade para turbinar o próprio currículo.
Entre os eleitores do partido anti-imigração Ukip, contudo, não há diferença entre classes, idade ou nível escolar. A maioria quer sair.
É o caso do tradutor Chirs Gillibrand, membro do Ukip no País de Gales que fez campanha para os britânicos deixarem o bloco. "A UE é essencialmente corrupta e corruptora. É o pior sistema possível, por isso devemos sair", argumenta Gillibrand, que diz ter vivido anos em Bruxelas, sede do bloco europeu.
Pesquisas indicam ainda um cisma geográfico.
O apoio ao "Brexit", a saída britânica da UE, é maior na costa leste e em cidades menores. A permanência prevalece em Londres, na Escócia, na Irlanda do Norte e nas cidades mais populosas da Inglaterra, áreas mais urbanas onde há mais imigrantes.
O resultado do plebiscito, que deve escancarar essas divisões, deve ser anunciado na manhã desta sexta-feira (24).
Mas, se o "Brexit" vencer, as mudanças não devem ser imediatas. É preciso que o Parlamento transforme a proposta em lei, vote e negocie com a UE —processo estimado em pelo menos dois anos.
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