Brexit domina último dia da campanha eleitoral na Espanha
A vitória do voto pela saída britânica da União Europeia fez subir a temperatura no último dia de campanha eleitoral na Espanha –país que, sem o Reino Unido no bloco, passará a ser a quarta maior economia do grupo.
O premiê interino, Mariano Rajoy (PP, conservador), candidato à reeleição neste domingo (26), fez pronunciamento logo após a renúncia de David Cameron em Londres e pediu tranquilidade.
Susana Vera/Reuters | ||
O líder do PP, Mariano Rajoy, fala em comício nesta semana; Brexit dominou último dia de campanha |
"Este resultado deve fazer com que todos os Estados-membros da UE reflitamos e nos esforcemos para reconquistar o sentimento fundador europeu e recuperar a atração exercida por ele sobre nossos cidadãos", disse.
Rajoy defendeu as reformas feitas em seu governo, como o saneamento do sistema bancário, sob direção do Banco Central Europeu, e disse que "não é o momento para acrescentar incertezas".
Outros porta-vozes do PP, como o ministro das Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo, e o deputado Pablo Casado, foram mais explícitos no uso do discurso do medo.
Casado disse que é o momento de o eleitor decidir entre a experiência e a aventura, em referência ao Podemos, partido fundado há dois anos e que nunca ocupou cargos no governo federal.
Pablo Iglesias, líder do Podemos –que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do PP–, considerou "pouco elegante" o uso do tema Brexit (como é conhecida a saída britânica do loco) "para ganhar um punhado de votos".
Podemos e Esquerda Unida, seu aliado nesta campanha, são os dois partidos mais críticos às políticas de austeridade impostas pela União Europeia à Espanha e a outros países como Portugal e Grécia.
"O que está claro é que o crescimento é incompatível com as políticas de austeridade. O resultado [do referendo] deve impulsionar uma nova União Europeia que respeite os direitos sociais e os direitos humanos", disse Iglesias em entrevista à TV Antena 3.
AUSTERIDADE
Temas de política externa, inclusive da União Europeia, estiveram praticamente ausentes da campanha eleitoral espanhola até a divulgação do resultado do referendo no Reino Unido.
No único debate entre os quatro principais candidatos, realizado por um pool de emissoras no dia 13, houve rápidas menções ao Brexit e ao drama dos refugiados.
No entanto, as políticas de austeridade, com seus efeitos econômicos e sociais como uma taxa de desemprego que persiste em 21% da força de trabalho, são o assunto central na Espanha. E elas têm como sujeito oculto a União Europeia, já que Bruxelas dita as linhas de política econômica dos países da zona do euro.
O candidato do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), Pedro Sánchez, disse que a vitória do Brexit é "um duro golpe para a Europa e os europeístas, mas não é irreversível".
"O que aconteceu deve fazer com que a Europa se dirija a políticas de crescimento e de geração de emprego, a políticas contra a desigualdade", afirmou Sánchez.
O líder social-democrata culpou uma "confluência entre a direita irresponsável e o populismo" pelo Brexit.
Ele alertou para o risco de novos referendos separatistas em regiões como a Catalunha e defendeu que as mudanças devem ser feitas "por uma força política tranquila, como o PSOE".
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