Minoria pró-saída na Escócia quer mudança e menos imigrantes
The Foot of the Walk é um pub em Edimburgo cujo nome significa algo como "o pé da caminhada". Fica no que foi, por séculos, uma rota de saída a pé da capital escocesa. Hoje é ponto de encontro da minoria em Edimburgo que, como a maioria dos britânicos, votou dia 23 para o Reino Unido deixar a União Europeia.
O bar, como seus arredores, é um dos poucos lugares na capital escocesa onde as pessoas não têm vergonha em admitir que preferem o Brexit —o histórico rompimento do Reino Unido com o bloco europeu.
Scott Heppell/AFP | ||
Mulher passa em frente a casa com cartaz de campanha para deixar a UE no norte da Inglaterra |
No Reino Unido, o Brexit venceu com 52% dos votos. Na Escócia, o resultado foi inverso: 62% escolheram ficar. Em Edimburgo, o Brexit foi preterido por 76%.
Achar quem defenda a separação publicamente não é fácil na capital escocesa. A maioria receia críticas.
Enquanto enrola um cigarro diante do pub, Lester Campbell, 47, assume que votou para sair porque queria mudar as coisas, mas, alheio aos desdobramentos da crise política e econômica, diz que até agora não viu nada ficar diferente.
Com tatuagem na cabeça, brinco e sotaque carregado, Campbell também repete a retórica anti-imigração da campanha: "Não me leve a mal, mas a ideia geral é reduzir os imigrantes e aumentar nossos empregos. E é também para mudar".
Indagado se já cogitou trabalhar em outro país, Campbell diz que não gosta de viajar. Uma vez passou duas semanas na Irlanda. Não suporta Londres pelo tumulto. Nunca explorou a Europa, mas pensa em viver no norte da Escócia.
A poucos metros, Tony Allen, 76, aproveita os parcos raios de sol de um verão que pede casaco. Ele não votou dia 23, mas também apoia a separação da UE. "Saindo, podemos melhorar. Acho que as pessoas votaram para sair porque há bons e maus imigrantes."
Campbell e Allen integram uma minoria na Escócia, mas reproduzem o pensamento de muita gente no Reino Unido que se sente excluída das oportunidades que a UE proporciona, em especial o livre trânsito de pessoas por 28 países.
O grupo também sofreu mais as consequências da austeridade imposta após a crise econômica de 2008, que melhorou indicadores sem ter reduzido a desigualdade nem criado empregos.
Esse grupo é também a clientela da rede da qual o Foot of the Walk faz parte. A Wetherspoon é a maior do Reino Unido, e não à toa atrai defensores do Brexit.
Além da cerveja barata, o presidente da rede, Tim Martin, é entusiasta do Brexit. Seus bares abraçaram a campanha anti-UE, com cartazes e revistas contra o bloco. Antes da votação, ele declarou que sua rede poderia "decidir o resultado".
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