Serra sugere postergar passagem da presidência do Mercosul para Caracas
A ministra de Relações Exteriores da Venezuela, Delcy Rodríguez, rebateu nesta terça-feira (5), em tom ríspido, as reiteradas críticas do colega brasileiro, José Serra, ao governo chavista.
A escalada ocorre no mesmo dia em que Serra propôs adiar a transferência da presidência rotativa do Mercosul para a Venezuela, prevista para a próxima terça (12).
(Xinhua/Li Muzi) | ||
A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, em sessão na ONU, em fevereiro |
"A República Bolivariana da Venezuela rejeita as declarações insolentes e amorais do chanceler em exercício do Brasil", escreveu Rodríguez no Twitter, em meio às comemorações pelo 205º aniversário da independência do país.
"Serra se soma à conjura da direita internacional contra a Venezuela e viola princípios básicos que regem as relações internacionais", postou a ministra, que integra o círculo mais próximo do presidente Nicolás Maduro.
Rodríguez voltou a dizer que o afastamento da presidente Dilma Rousseff é um "golpe de Estado" contrário à "vontade de milhões de cidadãos que votaram [nela]."
As declarações são as mais duras formuladas até agora por Caracas contra o governo do presidente interino, Michel Temer, que assumiu em maio com a promessa de reconfigurar a atuação do Itamaraty e nomeou Serra para executar essa missão.
Num claro esforço para se distanciar da gestão petista, Serra vem multiplicando ataques à Venezuela. Ele acusou Maduro de violar princípios democráticos, manter presos políticos e ser responsável pela escassez generalizada de alimentos e remédios.
Serra também já apoiou publicamente o plano da oposição de convocar o mais rápido possível um referendo para tentar revogar Maduro.
MERCOSUL
Nesta terça, Serra sugeriu que a Venezuela só poderá assumir a presidência rotativa do Mercosul —que lhe cabe pelos próximos seis meses conforme cronograma previamente acordado— se cumprir obrigações de adesão.
"Buscamos uma solução que dê maior prazo, até agosto, quando a Venezuela precisa cumprir com as pré-exigências do Mercosul", disse Serra em Montevidéu, após encontro com o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez.
O ministro se referia ao fato de o Tratado de Adesão da Venezuela (2012) ter definido agosto de 2016 como prazo final para a incorporação de todas as regras. Na área aduaneira, porém, falta adequar-se ao acordo que é a pedra angular do comércio no Mercosul, conhecido como ACE-18.
A Venezuela tampouco aderiu ao protocolo sobre livre comércio de serviços e não participa das conversas sobre uma futura área de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE).
O governo chavista também resiste a adotar o Acordo sobre Residência, que permite a cidadãos viverem em qualquer país-membro sem maiores burocracias.
Serra, que esteve acompanhado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse que a posição brasileira é "intermediária" entre a paraguaia, totalmente oposta à entrega da presidência à Venezuela, e a uruguaia, favorável ao respeito do cronograma prévio.
Não está claro se, após as declarações de Serra, está mantida a reunião de chanceleres do Mercosul, na próxima segunda-feira (11), para tratar da Venezuela.
A Casa Rosada também trabalha para que a Argentina ou o Uruguai comande o Mercosul nos próximos seis meses. Questionado por jornalistas sobre como ficariam as negociações com a União Europeia, o presidente argentino, Mauricio Macri, respondeu: "Nós vamos presidir o Mercosul nos próximos meses, impulsionando-o nessa direção".
O mandatário não especificou se se referia à Argentina ou a alguma parceria com o Uruguai. Entre os diplomatas argentinos, porém, comenta-se que as duas possibilidades estão em análise. A afirmação foi feita em Bruxelas na segunda (4), onde o presidente se reuniu com representantes da União Europeia.
Com informações de LUCIANA DYNIEWICZ, de Buenos Aires.
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