Brexit e Rússia dominam última cúpula de países da Otan de Obama
O presidente dos EUA, Barack Obama, viajou nesta quinta (6) para Varsóvia (Polônia) para participar de sua última reunião de cúpula da Otan (aliança militar do Ocidente) antes de deixar a Casa Branca.
A expectativa de que será uma das cúpulas mais importantes da aliança desde a Guerra Fria, com a reafirmação da política de contenção da Rússia, é ofuscada pelo mal-estar da decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia.
Jonathan Ernst/Reuters | ||
O presidente dos EUA, Barack Obama, saúda militares ao deixar o país rumo a Varsóvia, na Polônia |
A deterioração nas relações com a Rússia é um dos pontos fracos no legado de política externa do presidente, que deixa a Casa Branca em janeiro e tenta passar um tom positivo em sua despedida da Otan.
Além de Obama, estará presente o premiê demissionário do Reino Unido, David Cameron, entre os 28 chefes de Estado da aliança e 26 de outros países, na maior cúpula da Otan já realizada.
No último encontro, em 2014 no País de Gales, a aliança ainda estava sob o impacto da anexação da Crimeia pela Rússia, poucos meses antes, e do surgimento da facção terrorista Estado Islâmico (EI) como ameaça global —e o tema escolhido foi "reafirmação".
Este ano o mote é "dissuasão", em sintonia com a principal ação prevista para a cúpula, a autorização de uma força permanente da Otan de até 4.000 militares na Polônia e nos países bálticos, Estônia, Letônia e Lituânia, países que faziam parte da órbita soviética na Guerra Fria.
É o primeiro contingente regular da aliança ocidental desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, a ser posicionado na fronteira leste especificamente com o objetivo de conter Moscou.
Nesta quinta, a chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu a presença permanente na fronteira com a Rússia e disse que não basta ter uma força com capacidade de ação rápida em caso de necessidade.
"A situação de segurança na Europa se deteriorou de forma significativa. As ações da Rússia perturbaram de forma profunda nossos aliados do leste, por isso eles precisam de um apoio mais claro da aliança".
RÚSSIA
Os preparativos para a cúpula de Varsóvia são acompanhados de especulações sobre a reação da Rússia ao posicionamento dos quatro batalhões da Otan em suas fronteiras.
Se responderá com uma ação mais dura, como exercícios militares, ou mais diplomática, tentando explorar focos de desunião na aliança, o certo é que Moscou não deixará a decisão passar em branco, prevê o embaixador britânico na Otan, Adam Thomson.
"Há um pessimismo de que tudo o que a Otan faz provoca uma reação russa", disse o diplomata ao jornal "The Wall Street Journal. "A comunicação com a Rússia simplesmente não é boa o suficiente".
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, devolve à Otan a acusação de que seu país gera instabilidade na Europa. "A Otan faz uma escalada em sua retórica e ações agressivas perto de nossas fronteiras", disse Putin em junho.
"Nessas condições, somos obrigados a dedicar atenção especial a resolver as tarefas ligadas com o aumento da defesa".
No mesmo mês, a Otan realizou na Polônia o maior exercício militar de sua história, que envolveu 31 mil soldados.
TERRORISMO
Putin critica o Ocidente, sob a liderança dos EUA, de desprezar suas propostas de colaboração contra o terrorismo, preferindo manter o confronto com Moscou e a "mentalidade de blocos" de países da época da Guerra Fria.
Putin e Obama conversaram na quarta (6) por telefone, e concordaram em intensificar a cooperação militar entre a Rússia e os EUA na Síria, segundo o Kremlin.
Embora apoiarem lados opostos na guerra civil síria, os dois países tem no combate ao EI um objetivo comum. Obama exortou Putin a aumentar a pressão para que o regime do ditador sírio, Bashar al-Assad, suspenda os ataques a civis.
Sobre a Ucrânia, mantiveram o diálogo de surdos, com ambos defendendo o cumprimento do acordo de Minsk, para resolver o conflito no país.
BREXIT
Além das tensões com a Rússia, a cúpula de Varsóvia terá que lidar com o estresse europeu. A expectativa é que a saída do Reino Unido da UE fortaleça politicamente a Otan, que ganha importância como elo entre os EUA e a Europa.
Para Jens Stoltenberg, secretário-geral da aliança, o Brexit não altera o papel "essencial" dos britânicos na Otan.
Ele lembrou que a contribuição do Reino Unido à aliança representa quase um quarto do total europeu e que o país liderara um dos batalhões que serão posicionados na fronteira leste.
"Nem a UE nem a Otan estão totalmente equipados para lidar com os desafios de segurança sem precedentes que encaramos. Mas juntos somos uma parceria formidável", escreveu Stoltenberg em artigo publicado na revista "Newsweek".
"Essa parceria está se fortalecendo a cada dia e se tornou ainda mais importante depois do plebiscito no Reino Unido".
ELEIÇÕES NOS EUA
Um assunto que não está na agenda oficial mas certamente fará parte das conversas é a eleição presidencial nos EUA. O virtual candidato republicano, Donald Trump, critica a aliança militar criada há 67 anos, chamando-a de "obsoleta".
O magnata também critica a contribuição desigual dos parceiros, num dos raros pontos de acordo com o atual presidente. Obama já chamou de "aproveitadores" os aliados que não cumprem com a sua parte.
Enquanto fortifica a fronteira leste, a Otan tem preocupações com o sul da Europa, pelo enorme fluxo de imigrantes e a proximidade da área controlada pelo EI.
Uma série de medidas deve ser discutida em Varsóvia para projetar estabilidade além das fronteiras da aliança. A principal preocupação é o EI, que usa o território que controla na Síria e no Iraque para arquitetar atentados terroristas na Europa.
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