Grupo que defende policiais nos EUA critica desumanização pela mídia
Para uma ação, o Black Lives Matter, movimento criado para pregar que "vidas negras importam", uma reação.
Blue Lives Matter (vidas azuis importam, alusão à farda policial) nasceu como bordão, um contra-ataque dos que veem nas forças da lei as injustiçadas da história.
Agentes aposentados e na ativa se organizaram num grupo homônimo, que apontou o "Officer Blue" para dar esta entrevista à Folha.
Nenhum membro daria seu nome real, explicou o porta-voz, "pois policiais que expressam opiniões à mídia correm risco de demissão".
Se o Black Lives grita por Michael Brown, o jovem de 18 anos morto por um policial branco após roubar cigarros em Ferguson, a contrapartida azul lembra de nomes como Steven Vincent, 44.
Ele fazia patrulha na Louisiana e, numa manhã de 2015, recebeu um tiro na cabeça após abordar um motorista embriagado cujo carro atolara numa vala. Segundo a polícia local, o algoz (branco como Vincent) disse: "Você é sortudo, vai morrer logo".
Em maio, o governador do Estado sancionou uma lei conhecida como Blue Lives Matter, que inclui policiais entre alvos potenciais de crimes de ódio, com pessoas discriminadas por raça e religião.
Dois meses depois, o assassinato do vendedor ambulante Alton Sterling, 37, por um agente branco no mesmo Estado, ajudou a alavancar uma onda nacional de protestos contra a truculência da polícia. Um deles foi palco da chacina de cinco policiais da segurança do evento em Dallas pelo veterano de guerra Micah Johnson, negro, alimentando a cadeia de ódio.
Para o Blue Lives, Johnson era um "terrorista do Black Lives", um movimento "que espalha a falsa narrativa de que nós estamos à solta caçando homens negros".
(O atirador, que disse querer "matar brancos, sobretudo policiais", também expressou raiva contra o movimento negro, segundo o chefe de polícia de Dallas.)
Há sintonia no discurso dos grupos quase gêmeos em nome e avessos na causa: os dois reclamam que a mídia os desumaniza. Os "azuis" criticam ainda "o presidente [Barack Obama] e celebridades por legitimar mentiras".
Na véspera, Beyoncé, que no vídeo "Formation" exibe um muro onde se lê "parem de atirar na gente", publicou carta aberta contra o racismo.
"Isto não é um apelo a todos os policiais, mas a qualquer ser que falha em dar valor à vida. A guerra contra pessoas de cor e minorias precisa acabar", disse a cantora.
Segundo o "Officer Blue", "somos 700 mil nos EUA, mas a ação de cada um é julgada como se fosse de todos. Isso nos desumaniza". "O público não entende por que um policial precisa usar força, não entende de combate."
Em 2015, 124 agentes morreram em serviço, segundo o Memorial Nacional de Agentes da Lei. Excluídos acidentes e doenças, sobram 42 mortos em ação, sete a menos do que em 2014.
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