Maduro demite servidores que apoiam referendo revogatório, diz sindicato
Mais de 1.200 servidores que votaram a favor do referendo para revogar o mandato´ do presidente Nicolás Maduro perderam o emprego na Venezuela, afirma o sindicato União Nacional dos Trabalhadores (UNT), que levou o caso à Organização Internacional do Trabalho (OIT).
As histórias ecoam a do funcionário público Roger Moreno, que em 20 de junho foi intimado a se apresentar ao departamento de recursos humanos do Seniat, equivalente à Receita Federal, onde trabalhava desde 1995.
Ronaldo Schemidt - 6.jun.2016/AFP | ||
Eleitores venezuelanos assinam planilhas do referendo revogatório contra Nicolás Maduro em junho |
"Anunciaram que eu estava demitido. O funcionário do RH não me deu explicação e disse que só cumpria ordens", relatou Moreno, 49, à Folha.
Outros quatro funcionários da mesma repartição, em Táchira (extremo oeste), foram dispensados no mesmo dia.
Sem justificativa, todos supuseram um motivo: eles haviam apoiado por escrito a proposta da oposição venezuelana, em trânsito na Justiça eleitoral, de convocar um referendo revogatório.
Semanas após formalizar a queixa na OIT por discriminação e assédio a servidores, a UNT agora se prepara para reforçar a ação com envio de provas. "Temos vídeos, gravações e cartas de demissão que provam de maneira clara os abusos do governo", disse a coordenadora do UNT, Marcela Máspero. Ela pede a reincorporação dos funcionários.
Máspero lembra que vários membros do governo já haviam ameaçado servidores que apoiassem o referendo. Em maio, o deputado Diosdado Cabello, número dois do chavismo, exigiu um pente fino do abaixo-assinado. "Não se pode trabalhar para o governo e apoiar essas coisas."
O referendo é a principal aposta da oposição para abreviar a presidência de Maduro, eleito em 2013 para um mandato de seis anos.
Previsto na Constituição, o mecanismo depende de sucessivas coletas e verificações de de assinaturas.
A oposição tem pressa já que nova eleição presidencial só seria convocada se Maduro for destituído até janeiro de 2017. Depois disso, o governo passaria ao comando do vice-presidente, atualmente Aristóbulo Istúriz.
Não é a primeira vez que críticos do chavismo são perseguidos. Em 2004, o governo divulgou nomes de 2,4 milhões de pessoas que apoiaram um referendo revogatório contra o então presidente Hugo Chávez (1999-2013).
Chávez sobreviveu à votação, mas quem respaldou a proposta perdeu empregos públicos e benefícios sociais.
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