Sobe para 54 o número de mortos em ataque a casamento na Turquia
O número de mortos no ataque a um casamento na Turquia subiu para 54 nesta segunda-feira (22), com a morte de três vítimas que estavam em um hospital, informou a agência estatal de notícias Anadolu. Ao menos 70 pessoas ficaram feridas no ataque.
Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, afirmou no domingo (21) que um adolescente com idade entre 12 e 14 anos foi responsável pelo atentado terrorista do dia anterior a um casamento em Gaziantep, no sul do país.
Foi o ataque mais letal deste ano na Turquia. Em junho, um atentado deixou dezenas de mortos no aeroporto de Istambul, um dos mais movimentados da Europa.
Erdogan afirmou ainda que a organização terrorista Estado Islâmico está por trás do ataque, que coincide com um momento de tensão política no país. A facção, porém, não havia reivindicado a autoria.
Reuters | ||
Pessoas ao lado de uma das vítimas do ataque a um casamento em Gaziantep, na Turquia |
Em 15 de julho uma tentativa frustrada de golpe militar deixou ao menos 240 mortos. Desde então, o governo tem promovido um extenso expurgo, demitindo e detendo em diversos setores da população, como o Exército e o Judiciário. Jornalistas têm sido detidos no país também.
Erdogan culpa o clérigo Fetullah Gülen, exilado nos EUA, de ter organizado o golpe. Gülen, porém, nega.
Há também tensão em relação à população curda na Turquia. O governo está em conflito com movimentos dessa etnia que buscam mais autonomia. Milícias curdas na Síria, apoiadas pelos EUA, têm conquistado território do Estado Islâmico na fronteira com a Turquia. Erdogan teme que essas vitórias resultem no encorajamento do movimento curdo dentro do território de seu país.
O Estado Islâmico é suspeito de ataques a aglomerações curdas como maneira de aprofundar a crise e aproveitar-se do caos.
O casamento de sábado, alvo do atentado, era de um membro de um partido alinhado ao movimento curdo. Segundo a agência de notícias Reuters, o noivo feriu-se na explosão. A noiva não.
Havia um bebê de três meses entre os mortos, de acordo com testemunhas. A bomba foi acionada durante o fim da celebração, enquanto os convidados dançavam. Um colete com explosivos foi encontrado, segundo as informações das autoridades.
Houve funerais no domingo; alguns foram adiados para identificação dos corpos.
INSTABILIDADE
Durante um dos enterros, manifestantes protestaram contra o presidente turco, acusando-o de "assassino".
A instabilidade no país, em especial na fronteira com a Síria, é vista como resultado da inabilidade do governo de garantir a segurança.
Gaziantep, onde ocorreu o atentado, está localizada próxima da região fronteiriça.
A Turquia teria, segundo alguns de seus críticos, contribuído para inflamar o conflito sírio ao permitir a passagem de militantes e armas nessa região. Um relatório do governo alemão nesse sentido, recentemente revelado, causou atrito entre os países.
O governo de Erdogan é inimigo tanto do ditador sírio Bashar al-Assad quanto das milícias que buscam derrubá-lo, incluindo movimentos curdos e o Estado Islâmico.
No final de semana, Erdogan disse não ver diferença entre os seguidores de Gülen, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, na sigla turca) e a milícia terrorista Estado Islâmico.
"Nosso país só pode reiterar uma mensagem a quem nos ataca: fracassarão!".
A Turquia tem insistido, há anos, que a solução do conflito sírio é a saída do ditador Assad. Após sua reaproximação com Vladimir Putin, presidente da Rússia e aliado do regime da Síria, Erdogan tem dado sinais de que pode mudar sua estratégia.
Crescentemente isolado, o governo de Erdogan também reaproxima-se de Israel. O parlamento da Turquia ratificou, no sábado, a retomada de suas relações, após anos de ruptura.
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