Sob impasse, Espanha deve ter terceira eleição geral em menos de um ano
Susana Vera/Reuters | ||
O premiê em exercício da Espanha Mariano Rajoy (à esq.) recebe o líder socialista Pedro Sánchez |
Se nesta semana os líderes políticos espanhóis falharem na aprovação de seu próximo governo, como é previsto, eleitores podem ter que voltar às urnas em dezembro. O país terá passado um ano sem governo definitivo.
Mariano Rajoy (Partido Popular, conservador) atua como premiê em exercício. Seu governo tem diversas limitações. Mas, apesar da paralisia, a Espanha prospera.
Após anos de retração, a economia espanhola está entre as que mais crescem na zona do euro. A previsão do governo em exercício é de que o PIB (Produto Interno Bruto) suba 2,9% em 2016.
Especialistas se perguntam, no entanto, se a Espanha não poderia crescer mais caso vivesse uma situação política mais estável.
O governo em exercício não pode apresentar projetos de lei, e tem atrasado investimentos na infraestrutura e a nomeação de cargos.
O cenário pode complicar-se caso não haja um novo governo a tempo de aprovar o orçamento de 2017. Nesse caso, o orçamento deste ano passaria a valer automaticamente também no próximo.
Esse é um ponto problemático, pois o país vive sob pressão da União Europeia para reduzir os seus gastos. A dívida pública espanhola corresponde hoje a 100,9% do PIB, maior valor desde 1909.
ECONOMIA
O crescimento espanhol se deve, segundo a análise do economista Emilio Ontiveros, à sua integração à União Europeia. Sem o apoio do bloco europeu, afirma à Folha, o país estaria em uma situação bastante mais complicada.
"Se fizéssemos uma análise do que teria acontecido na economia espanhola sem a rede de segurança europeia, seria muito desastroso", diz.
A Espanha se beneficia de uma série de outros fatores, como o baixo preço das matérias primas e do petróleo. Além disso, há as vantagens do câmbio do euro em relação ao dólar, o que favorece a competição espanhola.
"A economia está se beneficiando do impulso que esses fatores externos tiveram", afirma. É uma situação que não deve perdurar sem limite. Setores que dependem de investimento público, como construção, seguem devagar.
POLÍTICA
O impasse espanhol é uma novidade. Até as últimas eleições, o país se dividia entre duas grandes siglas, o Partido Popular (PP, conservador) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE, esquerda). Era mais fácil ter maioria no Congresso e aprovar um governo.
Mas o pleito de 2015 registrou o surgimento de novas forças, o Podemos (esquerda) e o Cidadãos (centro-direita), complicando a conta.
Tanto nas eleições de dezembro de 2015 quanto nas de junho de 2016, nenhuma aliança entre os partidos conseguiu chegar ao número necessário de 176 deputados.
A espera dos últimos meses causa estafa em todo o espectro político. Se não se resolver o impasse, é possível que a Espanha volte às urnas em dezembro. A princípio o voto seria no dia 25, Natal, mas há movimentação para antecipá-lo para o dia 18.
Para o cientista político Pablo Simon, do think tank espanhol Politikon, há crescente rechaço aos políticos.
"Isso contrasta com o efeito em geral produzido após as eleições, quando a insatisfação popular cai e há uma lua de mel temporária, durante a expectativa em relação ao novo governo", diz.
PARALELO
O exemplo histórico para o impasse espanhol é a recordista Bélgica, paralisada entre junho de 2010 e dezembro de 2011 e sem governo por 589 dias. O recorde anterior era do Camboja, de 353 dias.
A Bélgica cresceu acima da média da zona do euro, o desemprego caiu e as previsões ruins não se concretizaram.
O que não quer dizer que a Bélgica tenha vivido dias tranquilos. O governo formado no fim de 2011 resultou, em parte, de pressão interna e externa. A agência de classificação de risco S&P havia rebaixado a avaliação do país até a formação da coalizão.
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