Ex-preso de Guantánamo entra em estado de coma no Uruguai
A greve de fome que Jihad Diyab, o ex-prisioneiro de Guantánamo que deixou o Uruguai rumo à Venezuela em julho, iniciou ainda em Caracas agravou seu já frágil estado de saúde. Segundo médicos que o atenderam, o protesto levou o sírio a um estágio de coma nesta quarta (14).
Diyab, que foi mandado de volta a Montevidéu no fim de agosto, está há mais de um mês sem comer e não teria ingerido líquido nos últimos 12 dias. Agora, recebe soro para reverter uma desidratação.
Dante Fernandez - 9.set.2016/AFP | ||
Em greve de fome, Jihad Diyab dorme em um colchão no chão de sua casa em Montevidéu |
"Ele não está consciente, não está lúcido", disse a médica Julia Galzerano, explicando o seu "coma superficial".
O uruguaio Christian Mirza, que tem sido o interlocutor do governo com os seis ex-prisioneiros de Guantánamo que chegaram ao país em dezembro de 2014, afirmou à Folha que Diyab está na companhia do tradutor, de um amigo e de duas médicas.
"Ele está muito frágil, seu estado é muito delicado", afirmou, por telefone, após deixar a casa do sírio. Mirza visita Diyab todos os dias desde o retorno da Venezuela.
No último fim de semana, o sírio havia se recusado a ser atendido por médicos num hospital na capital uruguaia.
Com a greve de fome, Diyab quer pressionar o Uruguai a enviá-lo à Turquia ou a outro país para se reencontrar com a mulher e as três filhas.
Foi esse o motivo que o levou a Caracas, onde esperava receber apoio de um governo crítico aos EUA.
A pressão já estaria surtindo efeito. Segundo José Luis Cancela, vice-chanceler uruguaio, o ministro Rodolfo Nin Novoa estava nesta quarta nos EUA para "obter a maior cooperação possível das autoridades americanas" para transferir o sírio a outro país.
Mirza confirmou à reportagem que a mulher de Diyab, refugiada em Ancara, não pretende ir para o Uruguai. "Eles estão considerando diversas opções [de países]."
A saúde de Diyab está mais comprometida porque ele já fizera uma longa greve de fome enquanto estava em Guantánamo. Na prisão, chegou a ser submetido a alimentação forçada com sonda, o que fez com que seus advogados entrassem com um processo contra o governo dos EUA.
O sírio caminha até hoje com a ajuda de muletas.
PÉRIPLO
No fim de junho, o governo uruguaio revelou que não sabia onde estava Diyab e que ele poderia ter cruzado a fronteira com o Brasil. Em 26 de julho, ele bateu à porta do consulado uruguaio em Caracas, após cruzar o continente de ônibus, passando pelo Brasil.
Como todos os outros ex-prisioneiros de Guantánamo, Diyab tem status de refugiado no Uruguai e não é impedido de deixar o país. Apesar de haver uma discussão sobre se o sírio ainda poderia retornar ao país como refugiado, o governo uruguaio negou que sua condição tenha mudado.
No consulado em Caracas, ele pediu para ser mandado para a Turquia, mas não foi atendido. No mesmo dia, o ex-prisioneiro deixou a representação diplomática e foi detido por agentes venezuelanos.
Ficou então sob custódia do serviço de inteligência por um mês, até ser enviado a Montevidéu no fim de agosto. Segundo seu advogado americano, Jon Eisenberg, ele foi mantido incomunicável no período.
De acordo com a imprensa uruguaia, Diyab viajou em um avião fretado pela estatal venezuelana de petróleo PDVSA.
Diyab foi preso em 2002, no Paquistão, suspeito de ligação com a rede terrorista Al Qaeda. Ficou 12 anos detido em Guantánamo, sem nenhuma acusação formal, até ter sua transferência liberada.
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