Médico que atua no Haiti alerta para dano psicológico após furacão
Apesar de ter provocado muito menos vítimas no Haiti que o terremoto de 2010 (que deixou 220 mil mortos), o furacão Matthew pode trazer impactos psicológicos mais significativos à população, afirma Jean Luc Poncelet, representante da Opas (braço da OMS para as Américas) no país.
"O terremoto ocorre por alguns segundos, é extremamente brutal, tudo cai, você tem réplicas, o que deixa as pessoas com medo. O furacão é muito diferente. As pessoas veem a ameaça do furacão, anunciado três dias antes, aí elas são afetadas. Você perde o teto da sua casa e fica no canto de casa, sem teto, com o vento balançando você por horas. O impacto psicológico é muito mais importante e duradouro", diz Poncelet, no Haiti há quase quatro anos.
Outros problemas de saúde são a dificuldade de os pacientes chegarem aos hospitais (que, em parte, também foram danificados), acesso a comida e água, o eventual crescimento da epidemia de cólera e de outras doenças (respiratórias, as que provocam diarreia e as transmitidas por mosquitos).
Segundo Poncelet, o risco de doenças transmitidas pelos mosquitos (como dengue, zika e chikungunya, que já existem no país) tende a cair nas primeiras semanas, já que os mosquitos também são afetados pela destruição, mas volta a subir entre quatro e oito semanas depois.
AJUDA DURADOURA
Uma situação que não existia à época do terremoto de janeiro de 2010, afirma, é a epidemia de cólera, que assola o país desde o ano do tremor e teve seu pico em 2011, com mais de 300 mil casos naquele ano.
Poncelet afirma que é preciso contemplar com cautela os registros de casos de cólera que começam a surgir, que podem estar distorcidos, mas disse que já foi possível verificar um aumento da doença.
Com experiência no apoio e gerenciamento de desastres no país desde 1989, frente a episódios de fome, aumento no preço de commodities, furacão e terremoto, Poncelet defende que, além da ajuda financeira, é necessário ajudar os haitianos com conhecimento para que se possa desenvolver uma estrutura robusta o suficiente para resistir aos mais diferentes tipos de tragédia.
"O problema real é a falta de desenvolvimento. A estrutura é muito fraca, é preciso pensar em ajudar o Haiti não só hoje ou amanhã, mas também em três meses", diz.
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