EUA veem declaração de Trump sobre eleição como afronta à democracia
Embora tenha adotado um tom mais contido que o habitual no terceiro e último debate presidencial, na quarta (19), Donald Trump jogou mais gasolina em uma das mais quentes campanhas da história moderna dos EUA com sua recusa em dizer se aceitará o resultado da eleição.
"Vou deixar você em suspense", disse o republicano ao mediador do debate, rompendo uma tradição de mais de 200 anos de eleições presidenciais nos EUA, em que o respeito às urnas e a transição pacífica de poder são considerados parte fundamental do processo democrático.
No dia seguinte ao debate, Trump acrescentou uma pitada de sarcasmo ao tom desafiador. Prometeu aceitar o resultado "desta eleição presidencial grandiosa e histórica. Se eu vencer", num comício no Estado de Ohio.
A resposta do bilionário chacoalhou a campanha, gerando uma onda de repúdio nos dois partidos. Com vantagem crescente nas pesquisas, a candidata democrata, Hillary Clinton, chamou a posição do republicano de "horripilante" e um golpe na democracia.
Mark Ralston/AFP | ||
O republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton no debate desta quarta (19), em Las Vegas |
Candidato republicano derrotado por Barack Obama em 2008, o senador John McCain disse que reconhecer a legitimidade das eleições é "a primeira responsabilidade" de todo líder americano.
Outros quatro senadores republicanos e um governador do partido também condenaram a declaração.
Membros da campanha de Trump alegaram que os democratas já contestaram uma eleição, em 2000, quando Al Gore perdeu por apenas 537 votos na Flórida para o republicano George W. Bush.
Trump também poderia contestar uma derrota nos tribunais, mas teria que fazê-lo em cada Estado, e contar com uma diferença pequena, o que as pesquisas não indicam.
A recusa em seguir a tradição presidencial americana é mais uma escalada no discurso incendiário de Trump, que passou a falar em fraudes no sistema eleitoral e de manipulação a favor de Hillary.
A suspeita encontrou apoio entre muitos de seus eleitores. Um deles disse ao jornal "Boston Globe" que haverá "uma revolução" para tirar Hillary do poder. "Vai ter muito sangue", afirmou.
"Se Trump contraria as normas democráticas dos EUA com suas suspeitas de fraude e isso encorajar violência de seus seguidores, ele terá que arcar com as consequências", disse o deputado democrata Brendan Boyle.
Num ato de campanha de Hillary na Flórida, o presidente Obama ironizou que Trump só considere o sistema fraudado se não vencer a eleição, mas alertou que a declaração do bilionário "não é piada, é perigosa".
O índice de irregularidades é tão baixo que é mais fácil ser atingido por um raio do que testemunhar uma fraude eleitoral, disse o presidente. De fato elas são raras, segundo estudo da Universidade de Loyola, em Nova Orleans. Em 1 bilhão de votos analisados, foram achados 31 casos de irregularidades.
Outros momentos de Trump no debate que deram o que tuitar foi quando chamou os mexicanos que quer deportar de "hombres maus" e Hillary de "mulher nojenta".
O comentário logo virou slogan feminista nas redes sociais e inspirou memes. "Mulher nojenta procura hombre mau para longas caminhadas na praia", escreveu uma internauta.
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