Atentado infla protestos contra o enfraquecido governo egípcio
O autoritarismo do atual governo egípcio deixa pouco espaço para a dissidência se manifestar. Os descontentes foram presos ou silenciados nos últimos anos.
Mas o atentado deste domingo (11) abriu algumas frestas que dão sinais do quanto a insatisfação popular tem crescido no país.
Membros do aparato de segurança foram recebidos na igreja com insultos. Um homem perguntou a um oficial: "Você veio agora depois que tudo foi destruído?".
Lamis Elhadidy, apresentadora de TV alinhada ao governo, foi expulsa do lugar por gritos de "vá embora!". A multidão presente exigiu a renúncia de Magdy Abdel Ghaffar, ministro do Interior.
Os cantos foram emendados com o mantra "o povo exige a queda do regime", que foi o lema dos protestos que derrubaram o ex-ditador Hosni Mubarak em 2011.
Sem informações sobre a autoria do ataque, a meta parecia clara: inflar a violência sectária e a oposição ao governo do presidente Abdel Fattah al-Sisi, que enfrenta o colapso da economia.
Seria um empurrão a uma situação já descarrilhada. A população não precisa ser convencida de que as forças de segurança nem sempre atuam em seu benefício.
Essa é uma realidade que afeta em especial a população copta, uma seita cristã que compõe cerca de 10% da população de 90 milhões.
A Folha visitou em agosto de 2013 igrejas destruídas no interior do país por radicais. A reportagem conversou com cristãos perseguidos pelo governo, que deteve adolescentes acusados de blasfêmia.
Tawadros, o papa dessa igreja, apoiou o golpe militar que levou Sisi ao poder. Sisi, por sua vez, foi o primeiro líder egípcio a participar das celebrações natalinas coptas em janeiro do ano passado.
Mas as boas relações parecem se restringir aos poderosos. Entre a população cristã, há crescente sentimento de vulnerabilidade e escanteio. Cristãos afirmam que ataques, como o de domingo, raramente são
investigados.
Não é o suficiente para a queda do governo. Mas, somada à insegurança e à crise econômica, a insatisfação dos cristãos dificultará ainda mais o já quase inviável trabalho do presidente Sisi.
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