Maduro volta atrás e prorroga vigência de nota de 100 bolívares na Venezuela
Carlos Eduardo Ramirez/Reuters | ||
Homem queima nota de 100 bolívares, que Maduro ordenou retirar do mercado na segunda (12) |
Após cinco dias de caos generalizado na Venezuela, depois de o governo anunciar a retirada do mercado da cédula de 100 bolívares —a de maior valor—, o presidente Nicolás Maduro voltou atrás e afirmou, neste sábado (17), que irá prorrogar a validade da nota até o dia 2 de janeiro.
A abrupta retirada e o atraso na circulação de novas moedas e notas geraram protestos e saques em várias cidades do país na sexta (16).
Maduro justificou o atraso alegando que o governo é vítima de "sabotagem". "A Venezuela foi vítima de uma sabotagem para que os três aviões que iriam trazer os novos bilhetes não chegassem."
O presidente também prorrogou até 2 de janeiro o fechamento da fronteira venezuelana com Brasil e Colômbia.
Em Maracaibo, no oeste do país, a segunda maior cidade, grupos que protestavam pela falta de dinheiro enfrentaram policiais, jogando pedras nos agentes.
Em Maturín, capital de Monagas, ao leste, dezenas de pessoas também foram às ruas e bloquearam uma das principais avenidas da cidade.
O deputado opositor Antonio Barreto Sira afirmou que houve "situações tensas" em El Callao, Tumeremo e San Félix, no Estado de Bolívar. Ele compartilhou fotos, nas quais se vê um grupo de pessoas quebrando a entrada de uma loja e tentando entrar à força.
O deputado da oposição disse em uma rede social que autoridades municipais confirmaram a ele três mortes na cidade de El Callao, no Estado de Bolívar, sul da Venezuela, em decorrência do caos por falta de moeda. "Um comerciante asiático, um homem e uma mulher. Saldo lamentável", disse ele.
As agências de notícias ainda não confirmaram as mortes.
"Passei pelo mercado, e estava tudo militarizado. Saquearam um caminhão de frango, e um grupo de velhinhos estava na porta do banco protestando porque queria dinheiro", relatou o agricultor Juan Carlos Leal, de Maturín.
Na cidade costeira de Puerto la Cruz, em Anzóategui (leste), "houve tumulto porque as pessoas queriam sacar dinheiro do banco e não deixaram", explicou Génesis, que trabalha em uma padaria da cidade.
"Para controlar a situação, a polícia atirou para o alto e determinou o fechamento das lojas", relatou Génesis, que disse temer represálias.
No Twitter, multiplicaram-se as denúncias de protestos em Estados como Bolívar (sul), Mérida, Táchira e Zulia (oeste). Muitas foram feitas pela página on-line de jornalismo cidadão "Reporte Ya".
Em Santa Bárbara, Barinas (oeste), a imprensa local informou que um grupo de pessoas tentou abrir, à força, um carro-forte que transportava dinheiro. Os motoristas teriam atirado, e haveria quatro feridos.
Maduro condenou "os grupos de vândalos e violentos que há por aqui". "Já identificamos alguns em fotos e vídeos nos atos de vandalismo de hoje e há deputados da MUD" (Mesa da Unidade Democrática, coalizão opositora).
"A imunidade (parlamentar) não lhes protege porque são crimes em flagrante, e espero a ação da justiça com a maior celeridade."
"Serão capturados e postos atrás das grades nas próximas horas. Mão de ferro, compadre!", gritou Maduro, que não nomeou os deputados identificados.
FALTA DE DINHEIRO
A retirada em apenas três dias da nota de 100 bolívares (equivalente a R$ 0,14 na maior cotação oficial e R$ 0,06 na paralela, a mais usada pelos cidadãos), a de maior valor em circulação no país, foi ordenada por Maduro para acabar com supostas "máfias" instaladas, sobretudo, na Colômbia.
Embora o presidente tenha anunciado que a saída de circulação das notas coincidiria, na quinta-feira (15), com a progressiva entrada de novas cédulas (de maior valor), não há sinal das primeiras moedas prometidas de 10, 50 e 100 bolívares, tampouco das notas de 500.
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