Opinião
Trump tem que baixar o tom para refazer laços com o México
Donald Trump vilipendiou e menosprezou o México repetidas vezes. Tachou os imigrantes mexicanos de estupradores e criminosos. Quer construir um muro para mantê-los fora do país —e fazer o México pagar o custo.
Embora o Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte) seja hoje o baluarte da economia mexicana e âncora de uma relação comercial bilateral forte, Trump insiste que o tratado precisa ser reescrito ou jogado fora.
Carlos Jasso - 9.jan.2017/Reuters | ||
Manifestantes queimam bonecos de Donald Trump e Enrique Peña Nieto em protesto no México |
Ele ameaça em alto e bom som penalizar empresas americanas que se transfiram para o México. Os mexicanos em pouco tempo passaram a odiar o novo presidente americano.
Trump converteu o México em poderoso símbolo de muito do que está errado na política externa americana: fronteiras desprotegidas que permitem a entrada fácil de terroristas e outros indesejáveis, políticas comerciais que transferem empregos para fora do país, acordos econômicos enviesados em favor de concorrentes dos EUA. Nenhuma questão foi mais eficaz para empurrar Trump rumo à vitória.
Embora muitos mexicanos não vejam outra alternativa que lhes permita conservar o respeito próprio, um confronto com a administração Trump apenas deprimiria ainda mais a economia nacional já combalida. O sentimento antiamericano crescente também abalaria a política mexicana e potencialmente decidiria a eleição de 2018.
Apesar das vantagens dos EUA em matéria de riqueza e poder, a nação asteca não deixa de ter poder de influência. O México é um dos três maiores parceiros comerciais dos EUA, movimentando cerca de US$ 600 bilhões por ano em comércio, mais ou menos o mesmo que o Canadá e a China.
As comunidades empresariais dos EUA e do México vão se opor fortemente a qualquer enfraquecimento das relações comerciais. Mas as negociações vão obrigar o México a aceitar algumas exigências americanas, se bem que ninguém sabe por enquanto o que poderá satisfazer Trump ou o que o México poderá oferecer.
A pergunta crucial que continua sem resposta é se Trump estará aberto a uma discussão séria com o México. Para uma discussão sobre imigração, o governo Trump teria que concordar que, se a fronteira puder ser protegida de outras maneiras, os EUA desistirão do plano de erguer um muro.
O nomeado por Trump para administrar as questões imigratórias endossou essa abordagem, enquanto a maioria dos especialistas diz que a segurança da fronteira já melhorou substancialmente nos últimos dez anos.
Lidar com o Nafta também será altamente contencioso. O tratado não é bem visto nos EUA e tem muitos críticos no México.
Muitos grupos poderosos nos dois países —sindicatos, ambientalistas, interesses regionais e várias comunidades corporativas— farão lobby intenso para reescrever seções do tratado.
O governo mexicano deixou a questão ainda mais confusa ao se oferecer a discutir o Nafta, mas recusar-se a renegociá-lo.
O novo governo americano precisa ser convencido a suspender o discurso agressivo que, afinal, conduziu Trump à Casa Branca, e começar a reconstruir os laços vitais dos EUA com o México.
PETER HAKIM é presidente emérito do Inter-American Dialogue.
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