Análise
Resultado deste domingo refletirá mais o bolso do que o medo
Patrick Kovarik/Reuters | ||
Candidatos à eleição presidencial na França se encontram em debate |
A campanha das eleições presidenciais francesas tem tido de tudo: traições, reviravoltas, controvérsias, bizarrices, um empate técnico entre quatro candidatos, e agora um atentado terrorista às vésperas do primeiro turno.
Por razões óbvias, o assassinato de um policial reivindicado pelo Estado Islâmico na quinta (20) favorece diretamente a campanha de Marine Le Pen e suas chances de passar para o segundo turno. O discurso de ódio da extrema direita faz da violência do movimento radical islâmico alavanca político-eleitoral para sua plataforma.
Contudo, esse episódio pouco impactará o resultado. A campanha girou menos do que esperado em torno do terrorismo, tema no qual o Presidente François Hollande é bem avaliado. Foram, sobretudo, a estagnação econômica e o desemprego crônico, razões pelas quais Hollande decidiu não se candidatar, que dominaram os debates.
Até Emmanuel Macron, atual líder nas pesquisas, parece imune aos ataques da direita sobre a sua inexperiência na luta antiterrorista. Na semana passada, Jean-Yves le Drian popular ministro da Defesa de Hollande, participou de um comício de Macron. Um gesto de peso similar à entrada de Colin Powell, secretário de defesa de George W. Bush, na campanha de Barack Obama em 2008.
As últimas sondagens indicam que as tendências de voto estão enfim consolidadas. O grau de certeza do eleitor aumentou sensivelmente. Vale lembrar que a ausência de uma base eleitoral sólida era o principal tendão de Aquiles de Emmanuel Macron, recém chegado à política francesa que se apresenta como o candidato de uma terceira via, social-liberal, pós-ideológica e pós-partidária.
As sondagens também indicam que as chances de Le Pen vencer no segundo turno são, por ora, nulas em qualquer cenário. No mais, há chances de ela ser a maior perdedora deste domingo: Jean-Luc Mélenchon, candidato de esquerda em ascensão, é competitivo entre os 25% de jovens desempregados, eleitorado-alvo de Le Pen.
Mais importante ainda, os recentes comentários de Marine Le Pen sobre a tragédia do velódromo de Vel d'Hiv de 1942, quando 7.000 agentes e policiais franceses deportaram mais de 8.000 pessoas a pedido da autoridade nazista, foram um lembrete ao eleitor. Apesar das manobras para tentar apresentar-se como uma candidata nacionalista, Le Pen não passa de uma representante da França colaboracionista e antissemita da Segunda Guerra Mundial.
Para a desilusão dos que insistem em colocar fenômenos tão distintos como a saída do Reino Unido da União Europeia, a eleição de Donald Trump nos EUA e a subida de movimentos de extrema direita na Europa no mesmo balaio, o fracasso de Le Pen –senão agora, no segundo turno– daria mostra que, afinal, é a história nacional, mais que a globalização, que faz ou desfaz candidatos.
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