Sistema é contra Le Pen porque ela cortará privilégios, diz assessor
Ex-executivo da L'Oréal e da Danone, Jean-Lin Lacapelle desembarcou na Frente Nacional de Marine Le Pen com a missão de modernizar o partido, que tem a imagem chamuscada por posições racistas de dirigentes no passado, hoje rejeitadas.
Integrante da cúpula da campanha presidencial de Le Pen, Lacapelle deixa claro que o restante da agenda da FN segue imutável: combater a globalização e a imigração.
Joel Saget - 1.mar.2016/AFP | ||
O vice-presidente da Frente Nacional, Jean Lin-Lacapelle, chegou com a missão de modernizar partido |
Com a candidata cerca de 20 pontos atrás de Emmanuel Macron nas pesquisas de intenção de voto, ele reclama da "hostilidade do sistema", formado por imprensa, bancos e grandes empresas.
Nesta sexta, a candidata disse que "mesmo que se não atinja o objetivo, uma gigantesca força política nasceu". Lacapelle vai na mesma linha. Afirma que, no mínimo, a FN se impõe como principal oposição da França.
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Folha - Macron é mais forte nas grandes cidades. Le Pen, no interior. Se ela ganhar, como unir os franceses?
Jean-Lin Lacapelle - Se Marine Le Pen ganhar, terá tido 50% mais um voto. Ela diz em seu programa que será a presidente de todos os franceses. Diferentemente de Macron, às ordens da União Europeia, dos interesses financeiros.
Como reduzir a diferença de cerca de 20 pontos?
As pesquisas mostraram Hillary Clinton [derrotada por Donald Trump] à frente. O "brexit" foi aprovado. Tentaremos convencer os indecisos, os que querem se abster. A partir do patriotismo econômico, seduzir os eleitores de [Jean-Luc] Mélenchon [ultraesquerdista]. Assim como tentaremos atrair os de [François] Fillon [direitista católico] com temas como imigração, terrorismo islâmico, identidade e soberania.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Le Pen quer restabelecer fronteiras, mas a UE prevê livre circulação de pessoas.
Teremos rapidamente uma queda de braço com a União Europeia, porque não temos mais a capacidade de acolher toda a miséria do mundo.
A imprensa francesa o chama de "faxineiro" da FN.
Marine Le Pen fixou o objetivo de profissionalizar o movimento. Tento contribuir com renovação de nossos quadros. Há dirigentes que depois de 30, 35 anos estão na mesma função. É preciso questionar isso, modernizar, tornar mais feminino o movimento.
Por que há pessoas que escondem o voto em Le Pen?
Há um clima de hostilidade com o nosso eleitor. Quando vemos [o presidente François] Hollande, que despreza os eleitores da FN. Quando Macron diz que fará de tudo para erradicar a FN. Mas está muito melhor que há 20 anos, há uma normalização do partido.
A relação entre a imprensa francesa e a FN é muito ruim.
Porque os grandes meios de comunicação são parte do sistema. E o sistema são os bancos, a oligarquia, a União Europeia. A única oposição livre, que tem um verdadeiro projeto de ruptura, é a Frente Nacional. Mas o sistema não gosta porque sabe que vamos destruir seus privilégios.
Se Le Pen vencer, a relação com a imprensa seguirá ruim?
Não. Porque conheço bem a grande imprensa francesa. Pode acreditar que ela virá comer na mão rapidamente. E dirão: "madame Le Pen, você está muito bem".
Alguns eleitores concordam com Le Pen na crítica à globalização, mas têm restrições a suas duras posições sobre imigração. É possível atenuá-las?
Só queremos colocar em prática o que existe em 85% dos países. Japão, EUA, Rússia, Brasil têm fronteiras. A França não tem. Queremos fronteiras para regular nosso fluxo imigratório. Isso não é negociável. A UE precisa aceitar isso ou teremos que sair.
Qual é o futuro da FN se o partido não ganhar?
De toda forma, nós seremos o primeiro movimento de oposição no Parlamento.
Por que ser chamado de extrema direita incomoda a FN?
É um partido que não é nem de direita nem de esquerda. Essa divisão não existe mais. Não foram os republicanos que elegeram Trump, foi o povo americano. Hoje há globalistas e patriotas, e Marine Le Pen é a chefe do movimento dos patriotas franceses.
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