Erdogan pede que EUA revertam 'sem demora' envio de armas a curdos
Reprodução/APTV/Associated Press | ||
Frame de vídeo da milícia curda YPG (Unidades de Proteção Popular) mostra blindados dos EUA |
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu nesta quarta-feira (10) que os Estados Unidos revertam "sem demora" sua decisão de enviar armas para as milícias curdas que lutam contra a facção radical Estado Islâmico no norte da Síria.
"Gostaria muito que [os EUA] voltassem atrás nesse erro sem demora", disse Erdogan durante uma coletiva de imprensa, acrescentando que expressaria "suas preocupações" ao presidente americano Donald Trump durante uma visita a Washington em 16 de maio.
O presidente turco também afirmou querer "acreditar que nossos aliados irão escolher permanecer ao nossa lado, e não ao lado de organizações terroristas" e que "combater um grupo terrorista ajudando um outro grupo terrorista é um erro".
A decisão da Casa Branca de autorizar o Pentágono a fornecer armas às Unidades de Proteção do Povo curdo (YPG), que Ancara considera um grupo "terrorista", foi anunciada nesta terça-feira.
O aumento da tensão entre Washington e Ancara coincide com a visita a Washington do chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, nesta quarta-feira, com o objetivo de obter o apoio dos Estados Unidos para um projeto destinado a reduzir a violência na Síria.
"Está fora de questão que aceitemos" o fornecimento de armas às YPG, reagiu também nesta quarta-feira o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, acrescentando que não entendia que "os Estados Unidos escolhessem entre nossas relações estratégicas e uma organização terrorista".
Apesar da indignação turca, o chefe do Pentágono, Jim Mattis, disse ter confiança na capacidade de Washington de "dissipar todas as preocupações" da Turquia. "Trabalharemos muito estreitamente (...) para apoiar sua segurança na fronteira" com a Síria, afirmou.
YPG
As YPG são uma parte essencial das Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança de combatentes curdos e árabes considerada por Washington como a força local mais eficaz para enfrentar o EI.
A Turquia, no entanto, considera as YPG o braço sírio dos separatistas curdos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado um grupo "terrorista" por Ancara e seus aliados ocidentais.
"As YPG e o PKK são grupos terroristas, não existe nenhuma diferença entre eles. E cada arma enviada representa uma ameaça para a Turquia", declarou o chanceler turco, Mevlüt Cavusoglu.
Nos últimos meses, o governo de Erdogan intensificou sua campanha para conter o avanço dos curdos na Síria e chegou a bombardear posições das FDS, matando combatentes apoiados pelos Estados Unidos.
O tema abalou as relações entre Estados Unidos e Turquia, dois membros importantes da Otan e da coalizão internacional que luta contra os jihadistas, ao mesmo tempo que ilustra a complexidade do conflito sírio, principalmente na região norte do país.
O distanciamento das estratégias dos Estados Unidos e da Turquia para o conflito na Síria deve contribuir para aproximar ainda mais o governo Erdogan e a Rússia, que apoia o regime do ditador sírio, Bashar al-Assad.
Embora a Turquia seja inimiga do regime de Assad e deseje sua deposição, o governo de Erdogan pode passar a aceitar sua permanência no poder em troca do apoio da Rússia para conter os curdos.
Ancara e Moscou, embora de lados opostos no conflito sírio, aumentaram a cooperação recentemente e na semana passada patrocinaram um memorando para criar "zonas de distensão" destinadas a reduzir a violência na Síria, conflito que deixou mais de 450 mil mortos desde 2011.
REPRESA
Nesta quarta, combatentes das Forças Democráticas Sírias tomaram a cidade de Tabqa e sua represa da facção extremista Estado Islâmico, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A cidade é a última antes de Raqqa, reduto do EI, e objetivo final da ofensiva lançada pela aliança de combatentes curdos e árabes sírios.
Um conselheiro das FDS, Nasser al-Hajj Mansur, confirmou a tomada da cidade estratégica e da represa.
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