França auxilia forças iraquianas a matar franceses do EI, diz jornal
As forças especiais da França auxiliam o Exército iraquiano a caçar e matar cidadãos franceses lutando nas fileiras da facção terrorista Estado Islâmico, segundo uma reportagem do jornal americano "The Wall Street Journal".
A França teria fornecido informação de inteligência para que a artilharia e soldados iraquianos alvejassem os militantes em Mossul, cidade que é uma das principais fortalezas do Estado Islâmico.
A informação incluiria nomes, fotografias e coordenadas de quase 30 homens. Não há confirmação de quantos deles foram mortos.
As forças especiais francesas vasculhariam os locais da explosão com um time forense para recolher tecido e ossos das vítimas, buscando evidência de que os seus cidadãos foram de fato mortos.
Estima-se que 1.700 franceses se uniram a militantes no Iraque e na Síria, segundo o grupo Soufan, baseado em Nova York. Centenas deles morreram ou retornaram à França, afirma o governo.
As operações são realizadas há meses, diz o jornal, citando militares iraquianos e ex-membros das forças francesas. A revelação, feita na noite desta segunda-feira (29), causou choque no país, que não tem pena de morte.
A estratégia está relacionada ao crescente temor de que esses militantes —agora com treinamento e experiência em guerra— voltem à França e, ali, realizem atentados terroristas como aquele que deixou 130 mortos em Paris e em suas imediações, em 2015.
Na semana passada, um cidadão britânico que havia visitado a Líbia e possivelmente a Síria explodiu em um show da cantora pop americana Ariana Grande, deixando 22 mortos.
Procurado pelo "Wall Street Journal", um porta-voz do Ministério da Defesa se recusou a comentar a acusação. Há 1.200 militares franceses auxiliando o Iraque na retomada de Mossul, tomada pelo Estado Islâmico em 2014 —e cenário da declaração do califado islâmico em junho daquele mesmo ano.
Alguns dos nomes de guerra citados pelo jornal americano incluem menções óbvias à França. A ficha de um militante circulada pelo governo francês tinha o nome Abu Ismael al-Fransi, por exemplo. "O francês", em árabe. Outros faziam referência à Bélgica, cujo Ministério da Defesa também se recusou a comentar o episódio.
O governo iraquiano, por sua vez, afirmou oficialmente que seu Exército não participa na morte sistemática de militantes do Estado Islâmico, ao contrário do dito na reportagem. Os casos revelados serão investigados.
"Eles estão lidando com os militantes aqui porque não podem lidar com eles em casa", disse um membro sênior do contraterrorismo iraquiano ao "Wall Street Journal". "É o dever deles. É senso comum, pois os ataques mais letais no exterior foram realizados na França."
Mas, se confirmada, a acusação do jornal americano deve levar a um intenso debate no país, como aquele vivido pelos EUA após a morte do americano Anwar al-Awlaki em 2011 no Iêmen, alvejado por um drone. O então presidente Barack Obama foi duramente criticado por essa ação militar.
Já há discussões na França sobre a legalidade de atacar seus próprios cidadãos nos bombardeios, aos quais o país se uniu em 2015. A lei francesa não oferece proteção a militantes que participem de insurgência em outros países, segundo um professor ouvido pelo jornal.
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