Não esqueço o barulho da van, diz brasileira que fugiu de terrorista
A psicóloga Rita Hildebrand Almeida estava na ponte de Londres com duas amigas também brasileiras na noite de sábado (3) quando uma van em alta velocidade aparentemente desgovernada chamou sua atenção.
"Achei que o motorista estava bêbado, mas, quando vi ele subindo na calçada e atropelando uma menina, minha única reação foi correr", contou Almeida, 36, à Folha.
Diana Brito/Folhapress | ||
As testemunhas Livia Nantes Tenuta, 35, (à esq.), Rita Hildebrand Almeida (centro) e Marianne Herrero |
Eram cerca de 22h. A psicóloga, que vive na cidade desde fevereiro, diz ter se visto no alvo dos terroristas que usaram uma van para atropelar pedestres na primeira etapa de um atentado que continuaria no mercado Borough e deixaria sete mortos.
"Ele [o motorista] virou para acertar a gente, mas conseguimos subir pela escada lateral do pub em que a gente estava antes, bem em frente ao local onde a van bateu."
Tomada por emoção ao rememorar o atentado, ela afirmou ter agido por instinto. "A gente achou que [a van] ia explodir. Fomos salvas pela 'escada de Deus', porque não tinha para onde ir tão rápido."
Após entrarem pelo acesso de funcionários do London Grind, pub vizinho ao Barrowboy & Banker, atingido, as brasileiras dizem ter corrido e se protegido sob as mesas. Ficaram ali uma hora.
"A gente se livrou porque ele [motorista da van] veio para atropelar quem estivesse pela frente. Subiu no canteiro central e acelerou na contramão. Entrou na calçada, atropelou uma menina e bateu na grade de ferro", afirmou Lívia Nantes Tenuta, 35.
A administradora, que chegara pela primeira vez a Londres na véspera, disse que continua abalada. "Fiquei bem assustada por acontecer na minha primeira visita à cidade. É impactante."
Quando a van se chocou com a parede externa do pub vizinho, houve correria e pânico. Funcionários trancaram as portas. "A polícia apareceu gritando para sair rápido e correr para a ponte no sentido oposto ao da van", disse Tenuta. "A gente viu os corpos. Umas 20 pessoas caídas, e os próprios policiais de preto tentando reanimá-las."
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Além dos sete mortos, o atentado deixou 48 feridos.
"Um táxi tinha uma mancha enorme de sangue na lateral. [Havia] muito policial armado mandando esvaziar a área [a polícia londrina não usa armas de fogo no dia a dia]. A sensação que tenho é que tive um sonho muito louco. Parecia filme", completou a fotógrafa Marianne Herrero, 31, que visitava a amiga.
As três caminharam cerca de duas horas e meia até acharem condução.
A fotógrafa mato-grossense disse que só dormiu com ajuda de um remédio. "A gente ficou o dia todo em casa ontem (domingo). Muita dor no corpo porque ficamos muito tensas", afirmou Tenuta.
Ela e as amigas dizem que não deixarão de visitar os lugares que querem conhecer, mas afirmam estar mais atentas. "A gente não consegue esquecer o barulho da van."
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