Sucesso on-line de Jeremy Corbyn impulsionou voto de jovens britânicos
Quase 10 milhões de pessoas assistiram a vídeos no Facebook que injetaram dinamismo na campanha do candidato trabalhista Jeremy Corbyn. O custo de produção desses vídeos não chegou a £ 2.000 (cerca de R$ 8.400).
Ao mesmo tempo, uma campanha dos jornais tradicionais de direita parece não ter surtido efeito sobre os eleitores, mesmo quando o "Daily Mail" atacou a liderança trabalhista em mais de 13 páginas, acusando-a de "ter passado sua vida política trocando afagos com aqueles que odeiam nosso país".
Andrew Yates-9.mai.17/Reuters | ||
Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista britânico, beija uma eleitora em Whythenshawe |
Após o resultado da eleição britânica, quando o Partido Conservador perdeu sua maioria parlamentar, o poder de persuasão da mídia on-line e o aparente declínio na influência dos jornais nesta eleição serão analisados.
"Apesar do viés presente na mídia, a campanha de Corbyn conseguiu se conectar com os eleitores", disse à Sky News o cineasta Ken Loach, militante de esquerda. "É uma vitória para Corbyn e uma vitória extraordinária contra o modo como ele tem sido retratado pela mídia."
Enquanto o Partido Conservador gastou mais de £ 1 milhão (R$ 4,2 milhões) com anúncios no Facebook e em outras mídias sociais contra Corbyn, os trabalhistas combinaram anúncios on-line e campanha de baixo custo.
Segundo o grupo ativista Momentum, que exerceu papel crucial na eleição de Corbyn para a liderança do Partido Trabalhista em 2015, seus vídeos foram vistos por quase 13 milhões de usuários únicos no Facebook, dos quais 9,8 milhões no Reino Unido (o país tem uma população de 65 milhões de pessoas, das quais cerca de 46 milhões estão aptos a votar).
O grupo diz que o vídeo de maior efeito, no qual um pai explica à filha que ela não está recebendo almoço gratuito na escola porque ele votou em Theresa May, foi visto 5,4 milhões de vezes em dois dias (a primeira-ministra trocou o almoço escolar por café da manhã).
Como comparação, o anúncio conservador de maior sucesso no Facebook, com clipes de Jeremy Corbyn falando em segurança e terrorismo, foi visto 6,6 milhões de vezes pagas. "Os trabalhistas usaram o Momentum com efeito devastador. Os conservadores não têm grupo de campanha equivalente", disse Giles Kenningham, ex-diretor de comunicações do Partido Conservador
A firma de pesquisas de mercado Enders comentou: "Publicações on-line pró-trabalhistas estão chegando a um público maior no Facebook que a maioria da mídia noticiosa impressa nacional."
A observação foi confirmada por pesquisa do BuzzFeed segundo a qual a maioria dos artigos mais lidos compartilhados foi pró-trabalhista, desde endossos de Corbyn até reportagens sobre o registro de eleitores jovens e sobre o Serviço Nacional de Saúde.
Com o aumento de eleitores de 18 a 24 anos, que tendem a preferir o Partido Trabalhista, a campanha de Corbyn foi direcionada para veículos voltados a eles. Corbyn foi capa das revistas de música "Kerrang!" e "NME" e foi entrevistado pelo artista de grime JME em vídeo visto 2,5 milhões de vezes.
Já os jornais de direita, que pareceram poderosos após o plebiscito sobre a saída da União Europeia, intensificaram seus ataques aos trabalhistas. "Os jovens não gostaram disso. Isso pode ter valido mais votos aos trabalhistas", disse Charlie Beckett, da London School of Economics.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
RESULTADO DAS VOTAÇÕES NO REINO UNIDO |
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