Projeção com boca de urna indica vitória ampla do partido de Macron
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O presidente da França, Emmanuel Macron, em um posto de votação em Le Touquet, no norte do país |
Em um claro rechaço aos partidos tradicionais, que devem ter suas bancadas reduzidas a frações, o presidente francês, Emmanuel Macron, teve uma ampla vitória neste domingo (11) no primeiro turno das eleições legislativas que devem dar o tom a seu mandato, após se eleger em maio com 66% dos votos.
O Partido Socialista, no governo até este ano, sofreu uma derrota histórica e perderá boa parte das vagas; a direita também encolheu.
O movimento de Macron, o centrista República em Frente!, recebeu 32% dos votos, segundo estimativas de boca de urna divulgadas às 22h locais (17h em Brasília).
Se confirmada a tendência, o República em Frente!, criado há um ano, terá de 415 a 455 dos 577 assentos na Assembleia Nacional, equivalente à Câmara dos Deputados brasileira. A fatia mais ampla da história foi registrada em 1993, com 472 deputados eleitos pela direita.
O número é uma projeção, pois a maior parte das vagas será definida no segundo turno, no próximo domingo (18), do qual participa quem obteve mais de 12,5% dos votos.
Na primeira etapa, são eleitos diretamente os candidatos com mais de 50%. Foram apenas quatro neste domingo -dois da República em Frente!, um do Divers Gauche (esquerda) e outro da União dos Democratas e Independentes, de centro-direita.
O resultado foi criticado pelos demais partidos, descontentes com a extensão da maioria de Macron na Assembleia, onde terá margem para aprovar as suas leis.
Com 21,2% dos votos, os conservadores Republicanos terão de 70 a 110 cadeiras, segundo a mesma projeção, feita pela consultoria Ipsos. Eles tinham 199 assentos.
Já o Partido Socialista, do ex-presidente François Hollande, teve 10% dos votos, o que deve garantir de 20 a 30 vagas -menos de 1/10 das 284 atuais. O líder da sigla, Jean-Christophe Cambadélis, eliminado no primeiro turno, disse não que o resultado "não é saudável".
Cambadélis afirmou que a esquerda viveu um retrocesso sem precedentes e disse que Macron "não deveria se beneficiar de um monopólio da representação nacional".
Benoît Hamon, que fora o candidato socialista às presidenciais e tentou neste domingo o cargo de deputado, já foi eliminado neste turno.
A França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, de extrema esquerda, teve 10,9% dos votos e deve obter de 8 a 18 cadeiras -as primeiras do partido, criado em 2016.
A Frente Nacional, da ultranacionalista de direita Marine Le Pen, teve 13,9% e receberá de 1 a 5 assentos. A sigla tinha uma cadeira. Le Pen, que concorre, passou para o segundo turno.
O sistema distrital francês elege deputados por unidade eleitoral. Não há, portanto, uma relação direta entre as porcentagens e as cadeiras.
ABSTENÇÃO
Os números, se confirmados dia 18, significam que o presidente terá uma maioria absoluta de legisladores e, com ela, poderá aprovar as reformas políticas que estavam na base de sua campanha -em especial, as mudanças nas leis trabalhistas, em um país que registra hoje 10% de desemprego.
Foi, por outro lado, historicamente baixo o comparecimento dos eleitores, o que pode colocar suas decisões em xeque. Calcula-se que a abstenção tenha sido de 51,2%, a mais alta desde 1958. A taxa no primeiro turno de 2012 fora de 42,7%, recorde.
Geoffrey Van Der Hasselt/AFP | ||
Jean-Christophe Cambadelis, líder do Partido Socialista, discursa em Paris após ser derrotado |
A abstenção de metade do eleitorado, que é de 46,9 milhões dos 66,8 milhões de habitantes, indica o desencanto da população, que pode ter apoiado Macron para frear Le Pen, e não necessariamente por sua plataforma.
A participação nas eleições legislativas variou de 70% a 80% entre 1958 e 1986, segundo o diário "Le Monde", mas cai desde os anos 90.
Rivais de Macron, como os Republicanos e a Frente Nacional, pediram que seus eleitores compareçam às urnas no próximo domingo.
Le Pen definiu a abstenção como "catastrófica" para o país. O conservador Alain Juppé, prefeito de Bordeaux, disse que é importante impedir uma Assembleia "monocromática", de um partido.
RENOVAÇÃO
Há diversas explicações para o sucesso de Macron nas eleições legislativas. Uma delas é a proximidade desse pleito com as presidenciais, em 7 de maio. O partido vencedor se beneficia da vitória recente, que motiva eleitores, enquanto os rivais são desmobilizados por sua derrota.
Mas o presidente centrista também colhe o que semeou nos últimos meses, ao propor uma renovação política.
Com sua eleição e a provável maioria legislativa, Macron rompe o domínio dos partidos tradicionais na política francesa. Metade dos candidatos da República em Frente! não tem experiência política prévia. Metade dos nomes é de mulheres.
Entre todos os partidos, concorreram 7.882 candidatos.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
1º turno das eleições legislativas na França |
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