ANÁLISE
Apesar de larga vitória nas legislativas, Macron terá desafios pela frente
As eleições legislativas deste domingo (19) na França conferiram uma supermaioria ao presidente Emmanuel Macron, confirmando, assim, a sua eleição em 7 de maio passado. Com cerca de 360 deputados eleitos, a coalizão de Macron obteve mais do que 3/5 da câmara. Mais ainda, o próprio movimento de Macron conseguiu, sozinho, uma ampla maioria (uns 320 deputados, equivalente a 55% da câmara).
Esses resultados deixam o presidente francês com as mãos livres para realizar as reformas anunciadas durante a campanha, como a do sistema eleitoral.
Além disso, o resultado dá força a Macron no cenário internacional. Com tal maioria ele pode reivindicar o posto de homem forte da Europa e do mundo ocidental, já que nenhum outro governante democrático possui tanto apoio parlamentar.
Philippe Wojazer/Reuters | ||
O presidente francês, Emmanuel Macron, durante encontro com a primeira-ministra britânica, Theresa May |
Contudo, mesmo em situação tão favorável, o presidente francês terá de enfrentar dois grandes desafios.
Em primeiro lugar, a abstenção recorde destas eleições legislativas (quase 57% neste domingo) deixa manifesto o grau de insatisfação e desconfiança dos franceses com a política e os políticos em geral, nuançando, assim, a vitória e a legitimidade de Macron. Ele terá de manter contato com a população se não quiser ser varrido nas próximas eleições.
Além disso, a maioria dos novos deputados não tem experiência política e se juntou a um partido sem um aparato forte. Nada garante que eles sejam disciplinados na hora de votar projetos de leis. Macron e o seu premiê terão, assim, de buscar imprimir coesão à sua bancada.
A coligação de direita se mantém como a principal força de oposição, com uns 125 deputados, embora tenha saído fragilizada do pleito.
Já a Frente Nacional é a grande perdedora destas eleições legislativas. Embora o partido tenha conseguido eleger mais deputados (8) que na legislatura passada, o nível da votação foi decepcionante e coloca em dúvida a estratégia atual do partido, num clima de desconfiança com a líder, Marine Le Pen.
Finalmente, os partidos de esquerda obtiveram resultados medíocres. Embora a sigla da extrema esquerda, liderado pelo Jean Luc Mélenchon, na sua aliança com o Partido Comunista, se coloca como a referência da esquerda, ele só conseguiu uma bancada de 26 deputados.
Já o Partido Socialista registrou o pior resultado da sua história, com 32 deputados. É patente que a grande vitória de Macron está diretamente ligada à desidratação socialista, e para este partido continuar a existir terá de adotar uma posição clara em relação à sua esquerda (Mélenchon) e à sua direita (Macron). Não será fácil.
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