Acusados de golpe turco deveriam usar uniforme de Guantánamo, diz Erdogan
Ozan Kose/AFP | ||
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, discursa em comemoração por vitória em tentativa de golpe |
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse neste sábado (15) que os acusados da tentativa de golpe que sofreu há um ano deveriam usar nas cortes uniformes laranjas iguais aos prisioneiros da base americana de Guantánamo.
A declaração aludia a um dos presos na intentona, que foi a um tribunal com uma camiseta com a palavra "hero" (herói, em inglês). "Estes ainda são bons tempos para os membros da Organização Terrorista Gulenista."
O governo usa o termo para se referir ao movimento Hizmet, liderado pelo clérigo Fethullah Gülen, a quem Erdogan responsabiliza pelo tentativa de derrubá-lo. O líder religioso, que mora nos EUA, nega qualquer envolvimento.
Este foi um dos trechos do discurso inflamado que fez a milhares de seguidores que se reuniram em Istambul para celebrar um ano da vitória no golpe. Ele voltou a declarar apoio à pena de morte aos supostos envolvidos.
"Antes de mais nada, cortaremos a cabeça destes traidores", disse, em referência ao projeto de lei pela volta da pena capital. "Se [a pena de morte] chegasse a mim depois de ter passado pelo Parlamento, a aprovaria."
O líder ainda comparou a vitória ao processo de independência da Turquia (1919-1923) e afirmou que "os cidadãos turcos, seguindo meu chamado pela resistência, salvaram o futuro do país".
No evento, ele inaugurou um monumento em homenagem às 249 pessoas mortas na intentona. Também mudou o nome da Ponte do Bósforo, a primeira que atravessou o estreito, para Ponte dos Mártires de 15 de Julho.
Antes de subir ao palco para o discurso, passou pela multidão junto com crianças e parentes dos mortos no golpe frustrado, que levavam bandeiras turcas. Houve comemorações na capital, Ancara, e em outras cidades.
CERCO
Neste último ano, 55 mil pessoas foram presas e 140 mil funcionários públicos foram demitidos, incluindo militares, professores e juízes, por suposta relação com o movimento liderado pelo clérigo Fethullah Gülen.
Além do expurgo no Executivo, líderes de partidos da oposição também estiveram entre os presos. O cerco atingiu também a imprensa, levando ao fechamento de 149 meios de comunicação e à detenção de 269 jornalistas.
A Turquia se mantém em estado de emergência desde a intentona. O movimento também serviu para que Erdogan impulsionasse um plebiscito em abril para aumentar seus poderes —o presidente venceu por margem apertada.
Para dois partidos da oposição, o governo turco perdeu a oportunidade de unir o país. O líder do Partido Republicano do Povo, Kemal Kilicdaroglu, criticou as investigações e o fato de o governo continuar em emergência.
O vice-presidente do Partido Democrático do Povo, aliado da minoria curda, afirmou que o expurgo atingiu pessoas contrárias ao golpe e opositores políticos.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis