Corpo achado na Patagônia argentina pode ser de ativista desaparecido
Marcos Brindicci/Reuters | ||
Manifestantes em Buenos Aires fazem ato sobre o desaparecimento de Santiago Maldonado |
A poucos dias das eleições legislativas de domingo (22), a aparição de um corpo no rio Chubut na terça (17), na Patagônia, colocou fogo na campanha eleitoral argentina.
A região vem sendo investigada desde o dia 1º de agosto, data na qual o artesão Santiago Maldonado, 28, desapareceu após um enfrentamento entre a Gendarmeria (a polícia federal de fronteiras) e um grupo de ativistas indígenas mapuche.
Maldonado, 28, vivia uma vida nômade como tatuador e vendedor de artesanato. Quando soube que haveria mais um protesto na região de Chubut que os mapuche disputam com a empresa italiana Benetton, foi ao local para apoiar os indígenas.
Testemunhas declaram ter visto Maldonado sendo levado, com vida, pelos policiais.
O caso virou um escândalo nacional porque a força pública negou ter o jovem sob custódia, mas ele não reapareceu em nenhum lugar —e nem seu corpo foi encontrado.
A Gendarmeria responde diretamente à Secretaria de Segurança, vinculada ao poder Executivo. Por conta disso, seus atos são relacionados diretamente às decisões do presidente.
A família de Maldonado iniciou uma busca e chamou marchas de protestos que reuniram milhares de pessoas em Buenos Aires e em outras cidades.
O desaparecimento tomou cores políticas. Os aliados da ex-presidente Cristina Kirchner passaram a acusar a Gendarmeria de ter matado Maldonado e escondido seu corpo, transformando-o no "primeiro desaparecido político" do governo do presidente Mauricio Macri, que alguns opositores comparam à ditadura militar (1976-1983).
Cartazes com o rosto do artesão passaram a ocupar vários muros da cidade, assim como o grito de "Onde Está Santiago Maldonado?" foi ouvido em concertos, teatros, e virou "hashtag" nas redes sociais.
Já o governo negou que tivesse o artesão sob custódia e ordenou buscas diárias no local do desaparecimento. Também foram levantadas outras hipóteses, como a de que ele teria fugido para o Chile, ou a de que ele teria ficado ferido e acabou levado pelas águas do rio Chubut ou a de que o grupo de mapuches o escondeu para prejudicar a imagem do governo.
IMPACTO POLÍTICO
Ainda deve demorar pelo menos uma semana para que se identifique o corpo encontrado no rio Chubut. O mesmo foi transportado nesta quarta (18) a Buenos Aires, e está sendo analisado pela Equipe Argentina de Antropologia Forense.
A expectativa ocupa os meios de comunicação, as redes sociais e as conversas entre amigos. Afinal, o cadáver —que tem tatuagens como as de Maldonado— apareceu a apenas 250 metros do local do desaparecimento, em um local onde já tinham ocorrido buscas pelo corpo.
A família de Maldonado afirmou que acha "suspeito" o fato de o corpo aparecer ali, e levantou a hipótese de que pudesse ter sido guardado em algum lugar durante todo esse tempo, e deixado ali apenas nos últimos dias.
O governo, preocupado com o impacto que a aparição do corpo de Maldonado terá na população, encomendou uma pesquisa por telefone junto a eleitores. A atitude foi classificada como "fria" e "desumana" pela deputada e candidata de oposição Margarita Stolbizer, e repudiada pelos kirchneristas.
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